DEZEMBRO E SUAS MARAVILHAS.
Sempre, embora repetitivas as festas, com sabores diversos, surge um clarão de boa vontade mesmo naqueles que vivem em trevas achando que alguma luz acende suas mentes.
Quando se está no escuro em uma grande sala, ou pequena, um fósforo que se acende pode parecer um luzeiro. E penetra-se nessa escuridão apagada de luminosidade; repetências.
Dezembro traz essa luminosidade antecedida por Buda e Confúcio, conhecidos como seus padrinhos, Jesus de Nazaré. Meio milênio separou chamas de sabedoria da sabedoria única que pelo menos chega de novo a cada ano na festa do solstício de Mitra, Deus da Luz Persa, sufragada a data por Constantino para celebrar o Cristo acreditado por sua mulher e mais concentrar política.
Lendo crônica de quem reputo privilegiado cronista desse espaço, Bernard Gontier, de ponta, um dos melhores do que se conta em dedos de uma das mãos, sob o título “Chamariz dezembrino”, dança Fred Astaire no palco de atemporais personagens, e indicam desde o amor que flana nas boas cerebrações do casal ao lado de sua mesa, até as seculares conquistas da concessão de dons, o fantástico Caravaggio, justamente quem tira magistralmente das sombras a luz de suas telas que habitam os cultores das artes e invade mostras da Cidade Eterna, Roma, congregando multidões, e vai até os que se extasiam com os viciados em motores possantes, motociclistas. E invado esse cenário.
Sim, torna-se impossível voltar para superar essas caminhadas insuperáveis. Se muito rodei estradas e céus foi para atender minha ansiedade para ver e absorver arte que pulsa em minha retina guardada nos museus do mundo. Quem ou quais artistas de hoje beiram os da renascença, como diz minha neta quando bato no pulso, o “rinascimiento”.
Do ronco dos motores que ainda ouço com o coração disparado numa Tiger Triumph, tomada de meu genro, proibido que estou de adquirir pelo trânsito voraz e minha mulher, até o passeio pela arte, me perco em pensamento. Quem pode emparelhar ou disputar com essas grandezas, Bernini o Rei de Roma, Michelangelo que dizia nada mais fazer do que tirar dos blocos de mármore onde trabalhava com seu cinzel mágico o excesso; ninguém. O tempo não volta atrás e o romantismo que mobilizava essas cabeças dotadas não se repete onde a tecnologia se expande, a pressa domina, a voluntariedade em saber o que não se sabe domina, e a superficialidade repete em monótona permanência impropriedades. Todos querem seu espaço, o que resta compreensível, mas improdutivo.
Pelo menos discute-se na mesa ao lado que o amor ainda existe, e briga-se com ele e por ele.
E esse amor vaza por todos os escaninhos no dezembro que chega e faz calar quem o contesta.