POR UM "PEELING" NA DIGNIDADE HUMANA!

O cenário real da minha crônica é uma instituição financeira na qual, em meio a correria dum meio dia, eu ali me encontrava para resolver uma rápida questão que não era só minha.

Antes confesso que há algum tempo um notório movimento “separatista” dos bancos me inquieta, e afora os aplicativos facilitadores da vida , esses que nos transformam em bancários mas que não incluem a todos, também noto que há uma segregação explícita dos clientes, de acordo com seus bolsos, pelas agências bancárias presenciais.

Vou explicar:

Se sua conta bancária é dum mero cidadão que urge por tudo de cidadania mínima, você nunca dará lucro ao sistema, portanto, você também NUNCA será uma SELECT PERSONNALITÉ, com direito ao STYLO duma dignidade PRIME.

Entenderam? Nunca lhe servirão uma água gelada tampouco um cafezinho cem por cento arábica.

Então, a maioria das pessoas é atendida nas suas necessidades cidadãs pelas agências populares que se dizem pelo “social”. Seria mesmo? Hummm…vejamos o exemplo que segue.

Saibam, é ali que um bom observador se depara com as “desinclusões sociais” mais chocantes do planeta.

E depois escreve para não chorar junto.

Começa pelos beneficiários das “aposentadorias do mínimo” e minha personagem desta crônica exemplifica o que vi ontem, o que tanto me indignou a ponto de eu estar aqui a descrever sobre.

De repente a cena de sempre: um “diálogo- monólogo”, junto àquela horrorosa porta giratória estridente, tentava explicar ao segurança do banco: ”senhor, pelo amor de Deus, já tirei o relógio, a bolsa, o celular, a meia, os brincos, quer que eu tire o sutiã?”.

Silêncio total. Ninguém se manifestou.

Então, continuei a ouvir, agora em tom de suplício: ”Meu Deus, me ajuda Deus, isso não pode estar acontecendo comigo, Meu Deus, me ajuda, Meu Deus, não é possível, não é possível…que horror isso aqui, eu não acredito nisso que está acontecendo aqui...”

Daí, eu que estava de costas num terminal eletrônico, me voltei para o desespero daquela criatura, larguei tudo ali para buscar uma solução: tratava-se duma idosa, talvez oitava década de vida, com sua bengala encostada na parede e que começou a soluçar, um choro profundo e desesperado, que aumentou tão logo eu lhe disse que eu me solidarizava com aquele desrespeito que ela passava, e que se quisesse abrir uma ocorrência eu seria sua testemunha presencial. Esboçou um pré -desmaio, eu a segurei, peguei no seu pulso aceleradíssimo e pedi ao segurança que lhe deixasse sentar lá dentro e que chamasse a gerente do banco.

Teve ela um nítido mal estar hemodinâmico.

O despreparo profissional do tal jovem homem segurança era desesperador…apenas postado ali, postura inflexível, com sua face impassível ao todo desrespeito e humilhação ali sofridos e com sua mão direita firme sobre a arma que carregava na cintura. “ acho que me meti numa confusão perigosa”, eu pensei comigo.

Mesmo assim, delicadamente, perguntei a ele se ele realmente acreditava que aquela senhora oferecia risco à instituição… ficou meio desorientado, mas não obtive sua resposta.

Lembrei do Estatuto do idoso mas...relembrá-lo por ali seria chover no molhado das lágrimas já derramadas.

Depois do meu pedido de socorro a alguém, a gerente apareceu ali e verbalizou :”Ah, é a senhora, dona fulana, ah... mas por que não me chamou antes?”

Ela chamou sim...mas ninguém ouviu...

Tratava-se duma correntista do banco.

Sai dali perplexa com a invisibilidade humilhante das pessoas…com a falta de empatia e solidariedade que reina no mundo, principalmente vinda das novas gerações.

O tal do próprio umbigo…cada vez mais "self" umbigo para se postar nas redes do nada.

Ato continuo entrei num elevador lotado.

Alguém também entrou e disse “boa tarde!”. Respondi sozinha.

De repente uma mulher muito jovem, de pele PERFEITA, se olhou no espelho e perguntou à amiga:

“Você conhece algum creme que fecha os poros?”

A resposta: “só peeling, mas a laser, viu?”

Era tudo o que eu precisava ouvir para fechar minha crônica com laço de ouro...de tolo.

Choque de gerações?

Não, fico com choque de degradações humanísticas…

Diagnóstico:

Concluo que precisamos, sim, é dum urgente e profundo “peeling social civilizatório”, só para descamar a impregnação fosca das tantas futilidades humanóides; e assim, quem sabe, rejuvenescer a triste desvitalização da nossa grande causa essencialmente humanística:

a de dar um belo viço à dignidade humana perdida…