O CURANDEIRO
Éramos uma turma de 6 amigos dividindo espaço numa sala ampla de um escritório.
Um deles,o Mário (aqui denominado benzedor) e Miguel Elias (aqui denominado o infurnado, o azedo,ou coisa que o valha).
Mário era moreninho, magro, fumante inveterado e gostava de ingerir umas cervejinhas ou uns talagaços da purinha ao final do expediente ( o que lhe deixava,ora inspirado,ora amoado durante o expediente do dia seguinte)
Miguel Elias, alto, gorducho,muito falante, resultado do sangue de gaúcho de sua mãe e
do sangue árabe do pai.
Era do tipo pavio curto e só não ingeria as variedades que Mário adorava,por conta de uma cirurgia que fizera no coração o que lhe obrigava a uma abstinência forçada .
****************************************************************
Tarde fria de um inverno de não sei quando.
Miguel Elias, possesso !
Já havia quebrado um lápis, destruído um bloco de anotações e estava prestes a aniquilar o telefone.
Mário... A personificaçao da paz e amor, da calma, da serenidade...
Sobre uma das estantes, um porongo.
Sêco, cheio de sementes. Alguém o colocara ali como peça decorativa.
(Pensem numa coisa ridícula !)
Miguel continua rosnando. Ninguém se atreve a tentar acalmá-lo.
Mário levanta-se de sua mesa, faz um ligeiro alongamento e , em voz alta, avisa.
-Amigos ! Vou curar o Miguel Elias,porém, preciso da colaboração de todos.
Peço que inclinem suas cabeças em sinal de meditação.
[ Todos lhe obedecem ]
Na maior cara de pau, Mário vai para um canto da sala e sai de lá,fingindo estar incorporado do espírito de um índio.
Apanha o porongo e aproxima-se da mesa de Miguel Elias chocalhando o porongo e fazendo a seguinte prece (?):
"Ala badala, quelobadada, acusa cazuza, sacode danuza...Salabê, salabatê,unhenguê,miguelê "
(Repete umas tres vezes este "mantra",enquanto inclinados,nós ríamos à vontade, ainda que despistando para que o "paciente" não nos percebesse)
Não demora e Miguel, enfurecido, toma o porongo das mãos de Mário e o pisoteia enquanto profere uma meia duzia de impropérios.
Mário, fingindo sair dum transe que sequer existiu, recomenda a Miguel uma saídinha pelo pátio, afim de recobrar as energias tendo em vista que a energia má, o "índio" já havia retirado e Miguel ainda havia colaborado quebrando o porongo onde ele - o índio - havia trancafiado o capeta que lhe atormentava.
Miguel olha com desdém,dá mais um soco na mesa e desaparece.
Retorna uns quinze minutos depois,sereno , calmo e gargalhante.
Desculpa-se com os amigos e em especial com o suposto pai de santo, Mário, à quem faz a seguinte indagação.
-Diz aí amigo ! Qual é o terreiro que frequentas ? Quero (e preciso) frequentar também.
Que indiozinho porreta este que te ilumina.
Aí...Só nos restou engolir a seco a vontade de desatar na gargalhada.
Joel Gomes Teixeira
Éramos uma turma de 6 amigos dividindo espaço numa sala ampla de um escritório.
Um deles,o Mário (aqui denominado benzedor) e Miguel Elias (aqui denominado o infurnado, o azedo,ou coisa que o valha).
Mário era moreninho, magro, fumante inveterado e gostava de ingerir umas cervejinhas ou uns talagaços da purinha ao final do expediente ( o que lhe deixava,ora inspirado,ora amoado durante o expediente do dia seguinte)
Miguel Elias, alto, gorducho,muito falante, resultado do sangue de gaúcho de sua mãe e
do sangue árabe do pai.
Era do tipo pavio curto e só não ingeria as variedades que Mário adorava,por conta de uma cirurgia que fizera no coração o que lhe obrigava a uma abstinência forçada .
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Tarde fria de um inverno de não sei quando.
Miguel Elias, possesso !
Já havia quebrado um lápis, destruído um bloco de anotações e estava prestes a aniquilar o telefone.
Mário... A personificaçao da paz e amor, da calma, da serenidade...
Sobre uma das estantes, um porongo.
Sêco, cheio de sementes. Alguém o colocara ali como peça decorativa.
(Pensem numa coisa ridícula !)
Miguel continua rosnando. Ninguém se atreve a tentar acalmá-lo.
Mário levanta-se de sua mesa, faz um ligeiro alongamento e , em voz alta, avisa.
-Amigos ! Vou curar o Miguel Elias,porém, preciso da colaboração de todos.
Peço que inclinem suas cabeças em sinal de meditação.
[ Todos lhe obedecem ]
Na maior cara de pau, Mário vai para um canto da sala e sai de lá,fingindo estar incorporado do espírito de um índio.
Apanha o porongo e aproxima-se da mesa de Miguel Elias chocalhando o porongo e fazendo a seguinte prece (?):
"Ala badala, quelobadada, acusa cazuza, sacode danuza...Salabê, salabatê,unhenguê,miguelê "
(Repete umas tres vezes este "mantra",enquanto inclinados,nós ríamos à vontade, ainda que despistando para que o "paciente" não nos percebesse)
Não demora e Miguel, enfurecido, toma o porongo das mãos de Mário e o pisoteia enquanto profere uma meia duzia de impropérios.
Mário, fingindo sair dum transe que sequer existiu, recomenda a Miguel uma saídinha pelo pátio, afim de recobrar as energias tendo em vista que a energia má, o "índio" já havia retirado e Miguel ainda havia colaborado quebrando o porongo onde ele - o índio - havia trancafiado o capeta que lhe atormentava.
Miguel olha com desdém,dá mais um soco na mesa e desaparece.
Retorna uns quinze minutos depois,sereno , calmo e gargalhante.
Desculpa-se com os amigos e em especial com o suposto pai de santo, Mário, à quem faz a seguinte indagação.
-Diz aí amigo ! Qual é o terreiro que frequentas ? Quero (e preciso) frequentar também.
Que indiozinho porreta este que te ilumina.
Aí...Só nos restou engolir a seco a vontade de desatar na gargalhada.
Joel Gomes Teixeira