Crônica Lembranças íntimas do meu tamarindo
Poeta Antonio Agostinho
Eu cresci vendo as tuas galhas enormes, vendo a tua sombra ingente dando agasalho aos pássaros e sobretudo as ovelhas famintas que vinham comer os teus frutos azedos. A tia Josefa sempre varria a tua sombra imensa e reclamava dos porcos que vinham fuçar o teu tronco e sujarem o nosso terreiro. Afinei muitas vezes a minha viola sentado na canoa do meu avô que estava presa ao teu tronco onde o cupim devorava tudo. Era dentro da tua rama escura que os pássaros cantavam e formavam o seu orquestral sublime que acordava todo mundo logo ao amanhecer do dia. Foi debaixo da tua sombra que li muitas vezes o nosso Gustavo Barroso, João do Rio e sobretudo os sonetos de Olegário Mariano. Foste para todos nós de casa uma relíquia porque todos nós te queríamos muito bem e te zelávamos com desvelo. A tia Marica passava muito tempo olhando a beleza da tua rama verde e ouvindo as aves cantarem na hora da matina, horário em que o ser humano desperta para o trabalho e deixa o seu lar querido a procura do pão cotidiano. O tempo te transformou num nada triste onde a tua beldade não existe mais nem a tua pujança mostra mais vigor como antes os teu donos conheceram. És hoje o fim de tudo mormente da lembrança do nosso lar humilde onde serviste de guardião por mais de um século. O nosso lar não existe mais e tu amigo também estás nos momentos finais, no entanto permaneces no coração deste poeta humilde e teu confidente.