a joaninha-arlequim
Eu caminhava alegre, sob efeito canabilistico, sob as imensas bétulas russas abundante nos parques de Sampa, ao meu redor, um jardim baixo de flores coloridas, então, eis que deste jardim, decola para logo aterrissar em meu antebraço, uma joaninha amarela e laranja, surpreendido pela beleza de suas cores retesei à altura dos olhos o antebraço para que ela passeasse livremente sobre minha pele e para poder observar de perto o esplendor natural de seu corpo rechonchudo. O insetinho colorido parecia deixar um rastro de uma substância viscosa atrás de si e em mim...
Quantas reflexões filosóficas se pode ter enquanto se observa a Vida abundante e variada! Aquele bichinho alaranjado com microbolinhas negras fazia-me atingir o zênite do pensamento: “todos somos um” ou “somos como infinitas miuçalhas, formando um infinito colar de contas de vidro” ou o melhor: “eu e a joaninha somos um!” o vento soprava ora morno ora quente, então, a joaninha levanta voo e vai embora se perdendo entre muitos crisântemos...
De repente, uma sensação física me inquieta: os tendões de meu antebraço direito, o mesmo que o adorável serzinho flanou há poucos minutos, se tornam gélidos e se contorcem em espasmos periódicos! A sensação avança até os cinco dedos, já não sinto-os! O agora gelado vento, sopra impetuoso.
Durante seu passeio, enquanto eu me perdia em devaneios filosóficos, a joaninha-arlequim, despejava doses de um poderoso veneno paralisante em toda a musculatura de meu antebraço direito. Não houve tempo de socorro, de clamar por ajuda, tarde demais, como as lulas que em combate desprendem seus próprios membros para continuarem lutando com o inimigo enquanto o restante do corpo foge, meu antebraço se solta do meu corpo indo, de acordo com leis imutáveis da física, ao chão. Uma asquerosa matilha de cães surge para devora-lo em segundos. Antes deste macabro evento eu era destro, agora me vi obrigado a ser canhoto!