Crônica o Caria Preto
Poeta Antonio Agostinho
Ainda quase menino conheci o Caria Preto como o povo o chamava. Caria Preto tomava uns três porres durante o dia e caía na sombra da nossa velha oiticica que ficava do lado direito da estrada real de Boa vista, uma estrada muito movimentada tanto de dia quanto a noite. Era este o lugar certo onde o nosso Caria Preto dormia e fazia sua refeição e palestrava com amigos ou outros inveterados como ele. Eu tinha um medo enorme do nosso patrício quando ele estava embriagado no entanto o Caria Preto nunca brigou com ninguém, nunca disse desaforo a pessoa nenhuma pelo contrário todo mundo tinha por ele um respeito enorme e muita pena em vê-lo sofrendo daquela maneira e não ter quem resolvesse seu problema alcoólico. A tia Ana Rosa tinha bastante pena daquela situação e muitas vezes mandava um pouco de pão de milho com leite para o nosso Caria Preto que não tinha família que não tinha um lar certo e levava aquela vida de mendigo ou de cachaceiro como diziam as más línguas. A tia Josefa em suas orações pedia muito a Deus um destino melhor para o nosso amigo que devorava cachaça como ninguém. Quando eu cantava em minha terra o Caria Preto ia me aplaudir e gritava esse é o menino da Teté, como é inteligente e poeta. Eu sempre tive muita pena de quem bebia porque o vício é uma coisa satânica e quem vai pra ele não sai mais. O nosso patrício viveu e morreu tristemente abandonado, sem o apoio de ninguém.