OS GALOS DO VIZINHO - COISDILÔCO!"

Um de meus vizinhos mora de aluguel numa casa antiga que pertencera a uma inesquecível professora de meus tempos de piá.

O terreno é grande e aos fundos existe um quintal.

Caquiseiros, figueiras e pessegueiros - já envelhecidos - dividem espaço com algumas árvores nativas,dentre elas dois robustos pinheiros que elevam ao céu suas majestades de araucárias.

Em seus galhos alberga-se um bando de curucacas que costumam "bater o ponto" nos horários exatos.

Quando a tarde cai, vão-se chegando aos poucos, rodopiam em torno do cone dos pinheiros e com guinchados melancólicos - elas têm um canto triste à tardinha - aninham-se entre os braços das araucárias.

De manhã, antes que rompa-se o dia,principiam o estardalhaço com suas cantigas eufóricas que mais parecem gargalhadas.

[ Impossível é não acordar com tamanha animação ]

Depois...Saem em bando e só retornam ao por do sol.

Não bastasse as curucacas, meu vizinho (que é dos antigões, tipo eu) cria galinhas.

Por volta de meia noite começa a cantoria dos galos e isso remete-me aos quintais de minha infância.

Numa noite destas, um frio razoável, estava eu feito um zumbi postado ao portão dos fundos ruminando minhas lembranças à cada esticada de gogó dos penosos do vizinho.

Passa por mim outro vizinho ,de gosto duvidoso (faz caminhadas nas madrugadas ) e indaga-me:

-Que faz aí a esta hora,com todo este frio?

Respondo-lhe:

Estou ouvindo os galos !

Ao que ele acrescenta:

-Coisdilôco ! Credo !

E segue em sua andança.

A madrugada fria mergulha em silêncios entrecortados com a magia das cantigas dolentes dos galináceos do vizinho.

O céu é marejado de estrelas e as flores do limoeiro perfumam as lucubrações deste cara que as vezes faz "Coisdiloco".