O VÍRUS DE SOFIA

Certa vez, ao deixar a faculdade, dirigia-me a pé para casa, como sempre fazia. Ao atravessar uma pracinha que havia no caminho, deparei-me com um livro partido em pelo menos três pedaços e atirado ao chão, vítima evidente da ira de alguém. Apesar do mau estado do volume, juntei os pedaços e verifiquei tratar-se de um romance de razoável reputação.

Nutro uma reverência especial por livros e senti um certo desconforto ante a situação. Quando pensei, todavia, que aquilo poderia ter acontecido a um exemplar da Ilíada, da Odisseia, da Divina Comédia, ou mesmo da Crítica da Razão Pura, a cada uma dessas lembranças correspondeu um "friozinho" a percorrer-me a espinha. Por fim, fui sacudido por violento calafrio, como se algo de muito sério acabasse de se instalar em minha vida.

Contei o episódio ao professor Patróquiles, de Filosofia da Arte, e pedi sua opinião a respeito. E ele me respondeu:

- Rapaz, você está perdido! Nunca mais terá sossego na vida. Você foi apanhado pelo vírus de Sofia!

Nota: publicado originalmente, e com leve diferença em algum tempo verbal, em junho de 1999, no jornal São Judas, da USJT/SP, onde cursei bacharelado em filosofia.

José Luiz Barbosa de Oliveira
Enviado por José Luiz Barbosa de Oliveira em 02/12/2018
Reeditado em 02/12/2018
Código do texto: T6517055
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