"Gatos"

Esta é uma daquelas crônicas que surgem do nada, fruto apenas da observação cotidiana de fatos não tão relevantes assim. Não é de hoje que venho notando um crescente número de felinos na população dos animais domésticos, e se existisse uma estatística oficial, eu realmente gostaria de saber se atualmente eles já não superaram os cães.

Vejo gatos para todos os lados: no meu trabalho eles se proliferaram, passeando de forma provocativa na frente de cães ferozes, que quase se viram do avesso de tanto latir. Passam vagarosamente, pirraçando, contando com a colaboração impositiva de uma cerca de arames entrelaçados. De manhã, pelas ruas, perambulam como se estivessem em ressaca, correndo o risco de serem atropelados por condutores de veículos ainda sonolentos. Coisas da boemia. Talvez se arriscam porque sabem que têm sete vidas, ao contrário de nós, humanos, que só temos uma. E neste contraste com relação ao número de vidas, eles também povoam o cemitério da minha cidade, dividindo os espaços das estátuas sobre as lápides.

Até na novela das oito - que começa às nove - o protagonismo já não é mais de um "gato" ou "gata" humanos. É de um gato felino mesmo, que rouba a cena em suas aparições. León, o gato negro de "O sétimo guardião" parece querer provar que à noite, nem todos os gatos são pardos.

Mas não é de hoje que o mundo da ficção dá notoriedade e estes bichanos. Lembremos de Félix, Garfield, do Gato de Botas, da "Turma do Manda Chuva" e dos "Thundercats". Estes são apenas alguns exemplos de como os felinos mexem com o imaginário criativo das pessoas. Provavelmente pelo mistério que exercem, pelo jeito sorrateiro de andar, pelo estilo metódico ou pelo olhar brilhante. Há também o lance da independência, o que os diferencia dos caninos, bem mais apegados aos seus donos.

E mesmo que eu ache que humanos e bichos devam ficar "cada um no seu quadrado", admito: os gatos são muito graciosos, principalmente enquanto filhotes. Não que os cães também não sejam, mas os felinos possuem um quê a mais, um diferencial inexplicável. Não há como vê-los brincar e não se encantar. Neste ponto, concordo com Samuel Rosa, vocalista da banda "Skank": "Como ver um bichano pelo chão, e não sorrir?" Difícil, improvável e impossível!

* O Eldoradense