Ah... se eu pudesse!
Se eu pudesse, eu fotografaria a vida e mostraria a sua beleza às pessoas. Mas não posso fazê-lo.
Há tanta gente perdida... Há tanta gente com fome... Há tanta gente no sofrimento (físico ou mental)... Há tanta gente sem moradia, trabalho, saúde, educação... Há tanta gente sem paz... Há tanta gente na fofoca, na corrupção, no crime, nas drogas, no ódio, na maldade... São tantas situações...
Existe também muita gente em busca de riqueza, poder, fama, luxo. Mas a riqueza, o luxo, o poder e a fama são ilusões. Tudo isso ilude. Tudo isso dá uma falsa noção de felicidade.
Ah... se eu pudesse! Ah se eu pudesse, mesmo eu sendo imperfeito, mostrar aos homens que o ser humano não necessita de muito para ter uma vida feliz. Se eu pudesse, eu faria com que as pessoas reconhecessem a importância do desenvolvimento de seus talentos e potencialidades. Eu lhes mostraria que o verdadeiro brilho vem de dentro, e não de fora da pessoa. Eu lhes mostraria a singeleza da vida, a grandeza da Criação, a maravilha da vida humana, mesmo eu sendo APENAS e TAMBÉM humano.
Ah... se eu pudesse! Se eu pudesse, os seres humanos não viveriam se odiando; não viveriam em guerra; não teriam a estupidez de eliminar a vida de outro ser humano. Matar gente é atitude bárbara, cruel, desumana. Mas eu não posso fazer isso. Deus pode, mas Ele deixa as pessoas livres para aprenderem por si mesmas, ainda que muitos inocentes sofram.
Eu não sou ateu, e jamais o serei. Mas eu gosto da filosofia sartriana. Neste momento, faço uso de um pensamento de Sartre, pensador francês do século XX que era ateu, segundo o qual o destino do homem está em suas mãos. Eu digo que, em parte, concordo com Sartre. Por acreditar no Criador, eu coloco a minha vida nas mãos de Deus, mas concordo, em parte, com o filósofo francês mencionado, para dizer que somos responsáveis por aquilo que somos. Somos responsáveis por tudo o que fazemos. A filosofia sartriana responsabiliza o homem por aquilo que ele é e faz. É por isso que gosto dessa filosofia; não concordo apenas com o seu ateísmo. Obs.: Sartre era ateu, mas não era ateu atuante, ou seja, não militava contra Deus.
Ah... se os homens aprendessem! Ah... se os seres humanos aprendessem que o amor é necessário, e que o ódio é veneno, principalmente para quem o possui. Mas muitos não têm tempo para o que é realmente importante. Muitos, como dizia Platão, estão numa caverna, vendo apenas imagens, sombras, e confundindo isso com a verdade.
Ah... se eu pudesse mostrar aos seres humanos a importância do conhecimento e o prazer advindo dele! Eu tenho muito para aprender. Eu tenho muito para viver. No entanto, eu conquistei a felicidade. Isso não significa ausência de desafios, lutas, momentos tristes. Para mim, felicidade é paz interior, harmonia dentro de si mesmo, exercício da razão. Felicidade não é algo estático. Felicidade exige movimento interior, abertura para a vida. Para uma vida feliz, o ser humano necessita de Deus, trabalho, saúde, moradia, família, amor dentro de si, amigos verdadeiros, paz no bairro onde mora, mente e coração abertos e abertura para a vida, para o novo. E eu os tenho.
Eu não preciso de droga para ser feliz. Na verdade, droga não produz felicidade, mas ilusão. Eu não preciso de entorpecente. Não preciso de nenhuma bebida alcoólica, nem faço uso disso. Obs.: Não sou contra quem bebe, pois o meu pai bebia e fumava muito, e eu o amava. Eu, porém, não bebo nem fumo. Prefiro enfrentar a vida de cara limpa, racional e poeticamente.
Como a felicidade não é também ausência de trabalho, vou, agora, lavar roupa, e à mão. E faço isso com prazer. O trabalho produz disciplina e me dá satisfação, além de me ajudar a viver amadurecendo e a caminhar em busca da sabedoria. O trabalho desenvolve potencialidades. Segundo Hegel e Marx, o trabalho transforma a natureza e o homem. O trabalho dignifica.
Ah... se eu pudesse! Mas cada ser humano deve aprender sozinho. Muitos, porém, morrem e não aprendem a viver.
Pastos Bons/MA, primeiro dia do mês de dezembro de 2018.
Domingos Ivan Barbosa