Cecília
Abrir os olhos antes mesmo do dia clarear não é uma novidade para uma pessoa extremamente matinal, apesar de ser costume checar a hora e ficar observando os detalhes das paredes e sentindo a maciez do edredom enquanto o despertador não toca. É incrível como a solidão é tão parte dela quanto dos dias que se repetem com a mesma monotonia de seguir sempre a mesma rotina e se encantar com pequenos detalhes e agradecer involuntariamente por cada segundo que a sobrevivência lhe permite ficar.
Caminha vagamente por ruas que nem sempre conhece, entrega sua mente aos pensamentos que, aos poucos, sua alma lhe guia, distrai-se sem nem perceber por onde seus passos a levam. Sente o sabor do café, que escolhe forte apesar de sempre adoçado e acha engraçado quando os balconistas confirmam se sua água é realmente com gás. E os dias passam, embalados a músicas em modo repeat normalmente escritas e gravadas muito antes dela nascer.
Quem a vê, percebe aleatoriamente um sorriso sorrateiro que imerge tanto sentimento; um tanto tão imenso que as vezes se torna vazio. É difícil inclusive encontrar as palavras adequadas quando se nota que elas lhe escaparam em algum momento sem ao menos permitir que a percepção lhe abrisse os olhos para entender qual propósito nesses dias que correm livres, onde as amarras não surtam quaisquer tipos de efeitos. E lhe dói a frustração das tentativas de manter-se, autodestruindo-se a casa fracasso e condenando-se a cada lágrima que deixa escapar. É uma busca inconstante de um algo que ela nem sabe o que é, numa pressa deixada para trás em corredores que levam a outra direção.
Parece que esse tempo todo ela nem percebeu. Que aqui não dava pé. Não.