IMPRESSÕES DE UM CONCERTO
Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Concerto, com “c”, não tem nada a ver com conserto com “s”. Na verdade, temos aí o mesmo som, num e noutro vocábulos, mas com grafia e sentido diferentes. Conserto, com “s”, se diz de consertar, como ato ou efeito de restaurar, reformar alguma coisa ou mesmo de reparar algo mal feito, inclusive moralmente. Já concerto com “c”, do italiano, tem o efeito de conjunto harmonioso de instrumentos, por vezes concertando com um ou uma solista ou com o canto coral. Por analogia, fala-se em concerto das nações, embora sempre caiba, na ONU, o conserto das nações com “s” também. As Nações Unidas estão longe de formar uma orquestra.
Um concerto tem como efeito a elevação da alma. Claro, para quem tem alma, no sentido de sensibilidade, mesmo que não seja músico profissional. Uma elevação que parece levitação, como se a gente se erguesse acima do solo, numa experiência mágica. Assim, para falar em impressões de um concerto, aproprio-me, primeiramente, de uma frase de Xavier Marques, em A Cidade Encantada: "senti-me livre, sutil, incoercível, levitando e fugindo num voo angélico para as altas esferas". Pois foi o que eu senti também e sinto ao perceber que um maestro rege uma equipe afinada, desprendendo, soltando no ar as notas musicais que os membros da orquestra como que captam de imediato para depois emiti-las ritmadamente em diversos movimentos e em diversos instrumentos, de corda, de percussão, de sopro, de madeira. O corpo do ouvinte se enche de música e esse alimento espiritual, de tão leve, faz a plateia levitar-se durante o espetáculo.
A música, sobretudo a música clássica, dá asas à imaginação e essa, ágil, voeja, em espírito, bem acima da realidade terrestre, elevando-se às alturas. Até parece que a gente se eleva acima da própria condição humana, atingindo um grau de superioridade acima do comum. Assim me sinto num concerto. Assim vejo a arte, assim aprecio a música que enleva.