Glamourização

''Eu quero fazer medicina. Eu como pessoa, já ouvi muito essa famosa
declaração durante toda minha vida. A medicina nesse país enferrujado
transformou-se em uma máfia. Um investimento a longo prazo.
Quando eu digo que médico só é rico no Brasil, ninguém acredita em
mim. Médico na Europa está situado no mesmo nível socioeconômico
que um trabalhador de contabilidade, por exemplo.
A igualdade social na Europa é uma realidade incontestável, não posso
afirmar o mesmo sobre o Brasil, um país onde os patriotas persistem
em dizer que tem futuro, tem perspectiva e amam a pátria. Sendo
assim, a sentença ''eu quero ser médico'' é uma universalidade entre
um grande contingente de jovens universitários. A população
acadêmica nutre esse sonho desde a época do pré-vestibular porque
um doutor, um profissional formado em medicina, é visto como um
indivíduo influente e poderoso.
Diante disso, eu como escritor posso exteriorizar a minha humilde e
singela ótica em relação a essa preponderância estudantil. A meu ver,
médico nesse país fracassado é o único trabalhador que recebe uma
remuneração digna e elevadíssima, muito acima da média salarial
nacional, porque o sistema de saúde do Brasil é um fiasco, bem como o
próprio país, sua educação e a sua segurança.
Portanto, acredito que seja por isso que a medicina é tão glamourizada
e cobiçada em terras brasilienses. Por conseguinte, um assalariado
trabalha por volta de doze horas diárias com o objetivo de ganhar um
salário mínimo, sem a menor probabilidade de ter o seu imóvel e
automóvel próprios, enquanto o médico tem a nação nas suas mãos.
Ordem e progresso!''
Lucas Nicácio Gomes
Enviado por Lucas Nicácio Gomes em 28/11/2018
Reeditado em 19/03/2019
Código do texto: T6514215
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