Quem ri chora

          O óbvio, muitas vezes, precisa ser dito. Foi assim que Aristóteles pensou revelar uma antiga “novidade”, ele já tinha nascido com ela: “O homem é um animal risível” ou que, sobre o qual, até o prezado leitor ri. Afinal, “todas e todos” temos os músculos “risórios de Santorini”... Quando ele falou “homem”, quis dizer também mulher; sobretudo elas, acredito eu, por terem mais sentimento do que os machos, riem e choram mais do que os homens, ganhando pra si quase toda a fama de chorar.
          Por isso, Gonzaga, seguindo os costumes de Alagoa Nova, perguntou à Dona Antonina: “Mãe, homem chora?” Ela, tendo convivido com o filho nas horas de dor, respondeu pelo ‘bom senso’: “Se a pancada for na canela, diz nome feio; se, no coração, chora”. O filho se lembrou que dizia mais nome feio do que chorava, mas que do choro não escapava. Quando Biu Ramos morreu, vi Gonzaga chorando, e Martinho, disfarçadamente, num “vale de lágrimas”. Eles não são daqueles que, para chorar, trancam-se no banheiro; têm a coragem de chorar na frente dos outros; não como Sérgio e Hildeberto, que facilmente enchem os olhos d’água, ao escutar bela poesia. Enfim, quem ri chora, até Lampião, o rei do cangaço, porém fora dos momentos de raiva e de vingança...
          Contou-me o cronista Sitonio que o rurícola Zé de Ambrósio, da região do Seridó, no semiárido, entre Patos e Caicó, nos tempos de seca, fazia espetáculo com seu animal, anunciando, na porteira do quintal: “O cavalo que ri”. Logo se ouvia a frustação dos pagantes: “Ele só alevanta os beiços”. Arrogante, o dono do cavalo prestava conta: “E mostra os dentes...” Nunca procurei verificar o que dizem por aí: As hienas riem... Mas, desconfio tanto delas como do cavalo de Zé Ambrósio. Os homens, mesmo os ainda metidos a macho, choram; sobretudo como eu e Gonzaga, quando, emocionados, recebemos pancada no coração. Ou, assim como nos despertou Aristóteles: sempre rimos, quando bate e bate o coração.