De Medos, Direitos e Deveres

- Que que cê tem, hoje, Helena? Tá no mundo da lua.
- Tô pensando aqui.
- Percebi. Tá às turras com o Roberto de novo?
- Não. Tô com medo. Vi que o novo presidente é contra os direitos das domésticas.
- Ah! Isso foi na votação da PEC. Não acho que ele vá mexer nisso agora, não.
- Não sei. Diz que vai tirar décimo terceiro e férias!
- É. O vice dele disse isso. Mas, não se preocupe. Tem que passar pelo congresso primeiro...
- Acho que passa. Nessa política de toma lá, dá cá, o povo só se dana. É toma lá os direito dos pobre e dá cá os dever dos rico.
- É...
- O lado bom é que seus dever vão diminuir, né?
- Com relação a você, talvez, Helena. O problema é que eu também devo perder direitos. Isso, se não perder o emprego. A estatal em que eu trabalho está na lista para privatização.
- Mas, tu não é concursada?
- Sou e estudei muito para estar lá. Mas já estão mudando as leis que protegem minha estabilidade.
- Eita! Se tu perder o emprego, aí é que me dano mesmo.
- É, Helena. Vai ficar difícil pagar seu salário...
- Ainda bem que tô estudando! Com nível médio, posso tentar alguma coisa no comércio.
- Humm... Tenho três notícias para você. Todas ruins.
- Ai!
- A primeira: o comércio não terá como absorver tanto desempregado doméstico e do segmento público. E você irá concorrer com muita gente que tem até nível superior.
- Vixe!
- A segunda: com a nova legislação trabalhista, você não terá lá muitos direitos no comércio tampouco. Aliás, o novo presidente disse que o trabalhador terá que escolher entre emprego e direitos. E o salário deve ser mínimo.
- Bom... Pelo menos, tem comissão.
- Então, segura a terceira má notícia: com tantos desempregados ou subempregados, ninguém vai comprar nada e comissão de venda depende de...
- Venda!!
- Menos gente para comprar, menos vendas, menos produção... Muita demissão, no comércio, na indústria, em serviços...
- Credo, dona Zuleica!
- E muita falência. Afinal, não será tão bom assim para o empregador ter menos deveres, se é que isso serve de consolo.
- Serve, não.
- Pois é. Enfim... Chega de papo. Deixa eu aproveitar enquanto ainda tenho meu emprego e direitos e tratar de trabalhar.
- Eu, também. Obrigada, dona Zuleica. Essa conversa foi muito útil. Já não estou mais com medo.
- Não??
- Não. Agora tô mesmo é em pânico.

 
Este texto faz parte do Exercício Criativo
Direitos e Deveres
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