A saudade de Bernard

Enquanto as rosas desabrocham e as abelhas correm para beber os mais variados néctares o céu azul fornece o fundo ideal para aquele espetáculo da primavera, com esparsas nuvens desenhando curiosas imagens. Numa bela casa de campo, ao estilo vitoriano, havia um senhor sentado apreciando a vista e rememorando o passado.

Bernard, em contraste com a primavera, já percebia a sua estação como sendo a do inverno, muito longe da estação contada pelo calendário, de forma que vivia os últimos meses de uma vida que, na esperança de reviver, buscava na memória. Entre os momentos mais doces estavam aqueles compartilhados com a amada esposa.

Ver se esvair a vitalidade de um ente querido é doloroso, porém exponencialmente vem a dor quando a convivência data dos longínquos tempos, os quais a memória teima em ocultar, como que para evitar as tristezas do que já não é mais.

É dito pelos poetas que mais vale sentir saudade do que não haver saudade a ser sentida. Assim sendo, na vida de Bernard, não havia nada de mais valor senão aquilo que fora um dia e que não é mais.

Olhando para cima, buscando ver a presença da amada, ele finalmente percebeu que a hora do reencontro não mais tardaria. Então veio uma dor no peito que, pelos infinitos mistérios e ironias, trazia-lhe um prazer. Não sabemos se assim foi pela saudade ou pelo cansado dos longos anos que pesavam em seus ombros. Reconhecemos no entanto que algo temido e abominado por tantos veio como um consolo. Naquele misto de emoções, parcas últimas palavras foram jogadas ao vento:

- Estou chegando meu amor.

O que vem depois eu não saberia dizer meu caro leitor. Eis o mistério da vida.

Para ler mais textos meus, curta minha página no facebook:

fb.me/filosofiadouglaspacheco