NÃO CANTAREI

Acontecimento funesto. Tragédia ocorrida com os passageiros do voo que levava os jogadores de futebol do Chapecoense e jornalistas, do Brasil à Colômbia.

Desgraça.

Campo Grande-MS amanheceu triste.

Mais de mil quilômetros separam Campo Grande de Chapecó-SC, mas essa enorme distância não diminuiu a tristeza.

Saio para minha caminhada rotineira e percebo essa tristeza no olhar cabisbaixo das pessoas. Ninguém sorri. Não há risadas e nem gargalhadas.

Até os carros transitam em silenciosamente!

Os pais deixam seus filhos na porta da escola, em silêncio, calmamente. Nem há a correria e gritaria normal das crianças ao entrarem.

Silêncio na portaria do prédio, na lavanderia, na padaria, na academia, na oficina mecânica.

Pessoas caminham pela calçada em ritmo mais lento do que o normal.

Silêncio. A cidade silenciou. Parece que estão num velório. Sim. Estamos no velório dessas pessoas que faleceram no acidente aéreo.

Estamos todos de luto!

Também compartilho dessa melancolia: não canto! Se antes cantarolava e sorria no meu percurso matinal, hoje não cantarei, em respeito aos mortos.

Caminharei desolada. Caminharei pesarosa. Caminharei sem alegria e sem cantar.

Sei que de amanhã em diante a vida continuará seu percurso normal; no meu caminho continuarei a encontrar coco de cachorro, continuarei a pagar as contas que chegarem, aviões continuarão a cair, ônibus e carros continuarão a bater, pessoas continuarão a morrer. Triste. Muito triste. Por isso, nunca abandonem seus sonhos!

Que Deus conforte as famílias consternadas desse forte abalo sofrido.

26/11/2016

Simone Possas Fontana

escritora gaúcha de Rio Grande-RS,

membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,

membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,

membro da UBE/MS – União Brasileira de Escritores,

autora dos livros MOSAICO, A MULHER QUE RI, PCC e O PROMOTOR

graduada em Letras pela UCDB,

pós-graduada em Literatura,

contista da Revista Criticartes,

blog: www.simonepossasfontana.wordpress.com