Esquecimento

Primeiro tentei esquecer tua forma. Desfiz os traços do teu rosto, as pequenas retinas dos teus olhos (ervilhas, eu dizia) e os sinais vermelhos do teu corpo magro e pálido como um cristal leitoso. Em vão. Teu rosto entrou para dentro de mim pelos meus olhos que, rolando do céu azul às folhas frescas, buscavam unicamente a ti. Teus olhos verde-oliva pousaram sobre os meus olhos negros, machucados e marejados com uma indiferença que fez os deuses se debruçarem para ver, descrentes de tanto desamor. Eras para mim amor, carinho, amizade, ainda que na minha peraltice eu te irritasse e zombasse de ti.

Depois tentei esquecer teu nome. Teu nome que sopra dos meus lábios como o vento na copa das árvores. Quis te fazer árvore, de espécie estrangeira à qual eu nunca veria. Como é breve o meu nunca. Te vi. Meu Deus. Eu te vi. As folhas secas dos pés de castanhola se empilhavam nos cantos do parque, o silencioso percurso do quase morto riacho me falava de quem um dia eu fui para ti. Teus braços eram galhos secos que me enlaçaram sem vontade.Teus passos não vieram em minha direção. Árvores são imóveis, não te queria tília? Não. Te queria homem. Braços para os meus abraços, mãos para os meus afagos, corpo para o meu amor. Meu amor que arde como um Sol eternamente amanhecendo. Te queria amante, brisa suave tocando nos meus cabelos, vendaval intenso em nossos momentos a dois. Te queria meu. Te queria. Eu.

Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 26/11/2018
Reeditado em 26/11/2018
Código do texto: T6512635
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