Conto de Natal

Jingle Bells, Jingle Bells, acabou o papel...

A música a la Luis Bordon tocava a todo volume nos alto-falantes estrategicamente distribuídos nos postes do parque de diversão, lembrando aos desavisados que já era Natal. De vez em quando alguém reclamava e eles trocavam o disco. Para melhor; ou para pior. Havia gosto pra tudo.

Depois da micareta, o Natal era a festa mais animada da cidade. Logo cedo, casais de namorados, pais e filhos, e rapazes em busca de flerte marcavam presença entre as geringonças elétricas, trem-fantasma, roda-gigante, montanha-russa, barracas de jogos e mesas de bar. Sem falar no concorrido trailer de “Monga, a mulher-macaco”.

Ele havia engatado um namoro na fila da roda-gigante e, depois de muito sobe-desce giratório, pararam na mesa de uma barraca de bebidas. Conversa vai, conversa vem, beijinho pra lá, cheirinho pra cá, quis impressionar: subornou o operador do serviço de alto-falante e mandou tocar uma música para a namorada. Com dedicatória.

– Atenção Maria das Dores da Mulesta, ouça essa música que O. X. oferece! – troou o recado no parque, seguido de Lindomar Castilho cantando “Você é doida demais / doida, muito doida / você é doida demais!”

Das Dores, embevecida, escancarou um sorriso. Divino. Era a sua música preferida. Perguntou dengosa:

– O que significa “O. X.”?

– As iniciais do meu nome.

– Como é mesmo o seu nome?

– Ontonho Xofé.