CLARICE LISPECTOR. MAIOR QUE ELA MESMO.
“Eu nem entendo mais aquilo que entendo. Pois estou infinitamente maior que eu mesma, assim não me alcanço.” Clarice Lispector.
Gosto muito dessa frase, é magnífica, explode das entranhas da experiência, e comungamos com sua irrecusável verdade.
Onde mora essa expressão dessa frasista notável, Clarice Lispector?
Da sua insatisfação com a humanidade ou de uma compreensão maior que compreende que será sempre assim? E nada mais alcançando fica menor, por sua experiência compreender mais, ser maior? E assim não mais alcançar a luz tão desejada para todos?
E fica vencida se não se retira do que encontrou e nada pode mudar?
Os números não mais são compreendidos e as palavras se estiolam.
Na discordância e discórdia em que vivem os homens, nada entendendo do que deveria estar entendido, resta a expressão.
Qual espaço habita esse verbo?
O universo explicativo do mundo, das suas fraquezas que caminham de braços dados com suas necessidades.
Ou necessidades satisfeitas após corridas frenéticas da inteligência, na disputa da realidade e do que se sonha, realizadas, extinguiriam o caminho?
É o condicional que impera nos seres iluminados, aqueles que podem entender e, por entenderem ficam surpresos com o que queriam sonho e é realidade.
Buda, o principe Sidarta, viveu a posição contrafeita. Vivia o sonho palaciano onde seu pai abastado o encerrou cercado de todas as riquezas e deleites. E, fora dos muros do palácio, viu o que era a realidade. Mudou para mudar aqueles que o compreendem e se iluminam estando despertos, poucos.
Ficou maior do que ele a luz encontrada, não se alcançava por ter alcançado a máxima compreensão, e a aceitava, era inevitável. Despojou-se.
Não entender o entendimento adquirido, ou seja, a compreensão maior do que a meta atingida na vida e seu entorno, resulta em ficar maior que si mesmo.
Uma enciclopédia em duas máximas da notável escritora, inquinada de contraditória, mas que é artesã da vida, do pensamento, dizendo-o magistralmente, como nessa frase que fecha toda a hipótese, boa de celebrar: “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento.”
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