RENAN PERMANECE E A BURRICE VENCE

(do Senado Federal - Brasília – DF) Se a data de hoje, 12 de setembro de 2007, for considerada histórica, a história do Brasil acaba de atravessar um comprovante enorme de enaltecimento ao equívoco e minutando uma epopéia as trevas.

O que eu vi aqui em Brasília hoje foi à asneira demudada em pavilhão e brandida pelos que recebem o epíteto de “concessionários públicos” e, em ocasião de se executar um alinho ao texto putrefato hoje escrito nos anais de nossa biografia pública, o Supremo Tribunal Federal, casa gloriosa e da maior pureza, acostumada a acostar ilustres cérebros jurídicos, através do julgamento de um Mandato de Segurança que esteve nas mãos do Ministro Enrique Ricardo Lewandowski, se omitiu parcialmente, calando-se ao invés de julga-lo por inteiro a tempo. Muito embora alguns parlamentares tenham conseguido acesso ao plenário, se valendo de uma decisão do magistrado do STF, em síntese o pedido rogava muitos outros temas constitucionais e de interesse público que o STF, digamos, resolveu deixar para outra ocasião.

Falo da cena patética de ver a Casa do Povo, o Senador Federal, lacrado para que 81 eleitos encenassem uma pantomima secreta e néscia, sem a presença sequer dos funcionários públicos que ali trabalham; falo antemão do princípio da isonomia, tão discutido e garantido pela lei mor, ser ignorada, rasgada e jogada ao lixo como se papel higiênico usado fosse, quando impediram até os colegas congressistas, os Deputados, de entrarem para assistirem uma reunião plenária extraordinária; falo do regimento interno do Senado que cresceu a ponto de subir e bater na Carta Magna e fazendo da Praça dos Três Poderes uma filial da Praça da Paz Celestial de Pequim; falo dos socos e pontapés que homens públicos como Raul Jungmann e Chico Alencar receberam (e deram), tudo por que um aculturado travestido de Senador e sentado na cadeira central da mesa diretora se sentiu ofendido com aquela parte pequena do mandato de segurança e, por estar presidindo o Senado e torcendo pela permanência de Renan, mandou a polícia legislativa IMPEDIR A ENTRADA dos parlamentares incluídos na decisão da Suprema Corte. Em qual inferno acabamos de aportar, para ver um Senador neófito zombar e não cumprir uma decisão do STF?

Os velhos doutores professores de direito da UFMG diziam e ensinavam, que uma decisão judicial, primeiro se cumpre; depois se discute; mas não é este o entendimento de Tião Viana do PT.

Hoje eu tive a certeza de que Hugo Chávez não só influencia nossos homens públicos como também o Governo Federal abriu todas as torneiras dos seus cofres por uma questão de egocentrismo de ver um aliado bonachão e desmascarado publicamente ser mantido no Poder pelos métodos comparados ao AI-5, fazendo do que chama de democracia moderna um jargão amedrontador; sim, pois se isso é democracia eu temo qualquer outra singularidade cominada ao alvedrio, à liberdade.

Eu fui observador ocular desta história assombrosa; estive na porta do Salão Azul do Senado por volta das 11 horas e minha credencial não me tolerou sequer valer-me de a latrina da casa. A polícia do Senado estava em todos os lugares, imagináveis e inimagináveis e ninguém, ninguém mesmo conseguia passar de uma linha imaginária DETERMINADA PELO ENTÃO PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DA CASA, SENADOR TIÃO VIANA, do Partido dos Trabalhadores, que desta forma interpretou que estaria fazendo o seu papel de congressista. Por alguns momentos eu pensei estar vivenciando uma cena da velha e inútil, União Soviética, com agentes secretos por todos os lados e olhos eletrônicos espiando até as moscas que ousavam em passar pelas muralhas humanas de pistolas na cintura e brasões fluorescentes a altura do peito. Uma cena patética inimaginável para um país e Congresso presididos pelos que se intitulam “trabalhadores”.

Meu Deus! Como posso imaginar estar vivendo num país que possui o nome de República Federativa e que se afirma democrática, se vejo passagens como as que enxerguei hoje? Do meu lado direito eu via a Suprema Corte Federal inerte a tudo aquilo e na sua paisagem ao fundo, notava-se um silêncio incomum e uma névoa de parcimônia, enternecimento e mais segredo. A Deusa Themis, guardiã do umbral do STF parecia ter rubor de faces, em face de vergonha de guardar a máxima da justiça brasileira. Como pode isso ocorrer, oh Deus?

A minha esquerda o Palácio do Planalto que aparentava se moderar em sorrisos pelos seus inúmeros espelhos, como se o resultado daquela pantomima fosse esperado há dias sem nenhuma surpresa para ninguém.

Somente no final da tarde ficamos sabendo que 35 corajosos senadores votaram a favor da cassação de Calheiros, 40 contra e 06 covardes não votaram. O resultado dá a Renan o fôlego necessário para agir em busca de uma estratégia, junto com a súcia que o assessora e o Planalto que teme o pior e perder a “boquinha” de ter parte do PMDB contra suas ações, mas o PSOL promete, junto com seus aliados, não dar trégua ao Presidente do Senado. Outras três acusações ainda mais graves estão a beira de serem analisadas pelo Conselho de Ética e mais uma vez, se passarem às teses dos relatores, irão novamente a plenário para exigir a cassação do alagoano.

Eu não torcia pela cassação de Renan, até mesmo, porque eu não li o relatório do Senador Casagrande ou o dossiê da Polícia Federal, mas se o bom moço era de fato um garoto prodígio como pintaram seu quadro, por que este circo dos horrores foi instalado no Congresso Nacional? Minha mágoa é de saber que os representantes do povo enganam aqueles que os elegeram e vai à frente das câmaras de TV dizerem que isso é coisas da democracia. Eu entendo que numa democracia os resultados nem sempre são os esperados pela maioria, mas, salvo as ações que tramitam em segredo de justiça por poderem atingir a imagem de indefesos, como menores de idade, eu jamais vivenciei um julgamento secreto em nenhuma esfera da justiça do Brasil e se alguém disser que no caso específico do Senado, nada tem a ver com a justiça, eu rebato dizendo que os magistrados são CONCURSADOS e não eleitos. A questão foi de TRANSPARÊNCIA e onde há obscuridade de atos, há naturalmente dúbia interpretação dos resultados e questionamento das origens.

A vitória hoje foi da asneira, da estupidez, da tenacidade, do atilamento e da perpetuação do “coronelismo” que sempre transformou o povo em gado ferrado confinado em curral eleitoral a serviço de seus prazeres mais maquiavélicos, bizarros e masoquistas. Na noite de ontem, quando eu estava num restaurante de Brasília, notei quando o Deputado Raul Jungmann dava uma entrevista a um jornalista que, e afirmava que após o julgamento plenário de hoje, ou morria o Senado ou morria Renan Calheiros. O socialista nordestino informou que não havia espaço para que ambos saíssem sem arranhões e pelo visto, morreu o Senado...

Sugiro que os Senadores que votaram a favor do relatório do Senador Casagrande do Espírito Santo se manifestem perante a imprensa e por conseqüência, revelem a identidade de quem fez contrario, para que saibamos quem é que beija a mão de Calheiros e de Lula.

Alguns amigos mineiros com os quais mantive contato na noite de ontem e hoje durante o dia, sabendo de minha estada no DF, me perguntaram se Renan se livraria ou se seria cassado e eu disse o que foi “confirmado”; se fosse votação aberta, seria cassado e disse a pelo menos oito pessoas ainda ontem, que eu não acreditava nesta hipótese.

Não tenho mais nada a dizer, falar ou escrever e ao final, me desculpando pela expressão de baixíssimo calão, mas não pude deixar de lembrar Zé Lezim da Paraíba que diz em uma de suas piadas, que o brasileiro é igual a manequim de alfaiate, está sempre com o ferro "enfiado" no traseiro, mas não deixa o sorriso no rosto...

Texto e Foto: Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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