CURITIBA SEM SORRISO (UMA VISÃO NOSTÁLGICA)

Curitiba não é a mesma, de justo reinado. Emplumaram a sua face, estupraram seu belo corpo. Dominaram sua intimidade e amordaçaram sua visão de raro esplendor, com isso empobreceram seu franco sorriso e à expuseram para o mundo com débil maquiagem, tal qual musa de forçado sorriso, ou noiva induzida ao compromisso, por interesses escusos.

Saudosa lembrança de outrora, quando Curitiba era a noiva primeira, nas manhãs geladas de inverno, nas chuvas constantes de verão, nas garoas intermitentes do outono e na visão cinematográfica da primavera.

Quanta saudade da Curitiba, asseada, enxuta, assediada, cartão postal de turistas vários, sem os horrores da periferia sem paz.

Quanta saudade da Curitiba, alegre, amante, mãe, que acolheu em seus braços os filhos seus e ainda, pela bondade que lhe é peculiar, compartilhou seu eterno carinho, com filhos alheios. Adotou-os, sem discriminá-los, lhes deu carinho, conforto, segurança, e os mesmos não contentes com as dádivas recebidas, ousaram muito mais, a começar pela invasão desmedida de sua privacidade, antes intocável, hoje violada pelas construções de barracas nas margens dos rios, onde já viveram tantos lambaris de rabo vermelho e se extinguiram contaminados pela insensatez dos ignorantes e dos perversos homens maquiavélicos. Eles, contaminados pela ganância desmedida, usurparam da Curitiba as araucárias da gralha azul, sem seus lares não mais encantaram com o canto da alegria, nem mesmo para as canaletas dos mundialmente conhecidos ônibus curitibano. Com tudo isso, Curitiba foi perdendo a graciosidade e seu estado de alerta antes regozijo, foi dominado pelo desapego a arbitrariedade.

Em breve instante de estupor, também lhes tiraram a proteção que alimentava sua adorável beleza, o véu que adornava sua visão inquiridora e à mantinha sempre atenta.

Oh Curitiba dos vampiros e sanguessugas, que não mais consegue respirar à amizade. Curitiba que não dorme, que não descansa de tanto chorar a prisão de seus filhos nos próprios lares.

Oh Curitiba, que não perde a raça, mesmo enquanto, caçadores de ilusões à ultrajam sem piedade, para debilitá-la e vende-la ao mundo em fragmentos de parques, ligeirinhos, tal qual venderam para o mundo as sete maravilhas, porque da beleza mutilada, nos resta as carícias poéticas de Helena kolody, Adélia Maria Wolmmer, o acervo de Paulo Venturelli, os contos de Dalton Trevisan, os sonetos de Horácio Portella e Cecin Calixto, a grandiosidade do saudoso Jamil Snege, Airo Zamoner, Cristovam Tezza, Roberto Gomes, Rodrigo Bertozzi, etc. Deste trovador e de outros incansáveis em busca do respeito para com a nossa Curitiba, que é por sinal, famosa em todos os continentes, pelo sorriso, ele hoje, cada vez mais tímido e escasso.

A falta de justiça lhes tira a nobreza cultivada, a caridade espontânea, a vitalidade dominadora e a realeza conquistada.

Curitiba envelhece sem saúde, sem liberdade, em um hospício de ilusões. Só lhes resta a alma poética, que mesma sangrando, estimula cada bardo a mantê-la em toda a sua sublimidade, com as cores firmes do otimismo, perpetuando a esperança de ao menos revivermos a Curitiba do passado.

A Curitiba de antes, acolhia com flores, os enamorados. A de hoje, disfarçados nos sinaleiros, com assaltos relâmpagos.

Mãos ao alto, não dá um pio e passa a carteira, senão leva chumbo.

Essa Curitiba, não é a Curitiba que desejamos para os nosso filhos, netos,nem para os incautos do poder.

Nessa Curitiba, Paulo Leminski com certeza diria: oh Deus... o que fizeram com a nossa Curitiba?