VISÕES DE JANELA
(16 de fevereiro/2012)
A lua que agora vejo é cheia.
Cheia de magia num céu borrifado de estrelas.
É madrugada e adormecem os demais aqui em casa.
Sòzinho, ouço o ressonar, e feito um zumbi reflito o dia complicado por que passei.
E êste silêncio que seria compacto não fosse o ruído sêco dos saltos altos das "meninas da Jacira", instiga o lobo solitário que me habita a ensaiar um uivo na madrugada.
Rapidamente detenho-lhe enjaulado no que ainda resta-me de bom senso.
Não !...Não ficaria bem. Lobos costumam uivar suas solidões na mata, nas colinas enluaradas...
Enamoram-se de luas,camuflados sob o manto das folhas,o emaranhado dos galhos.Lançam na imensidão o brado retumbante de suas carências e, quando ouvidos,são temidos por alguns ou perseguidos e caçados por outros.
Sob o teto dêste quarto,sou nêste instante um lobo enamorado de lua,sem pretensões de despertar temor nem sequer tornar-se prêsa de um caçador qualquer.
Então,debruçado na soleira desta janela,aquieto-me e vou engolindo à sêco os uivos de minh´alma.
Uma luzinha colorida que se alterna revela-se a milhares de quilometros no cruzar de um avião.
Vêm-me à lembrança a figura de vó Izaura e seu baldinho de leite na mão.O bimotor das cinco da tarde sobrevoando o céu iratiense e a boa velhinha filosofando:
"Vejam meninos !...
Quanta gente feliz viajando,maaass...quanta gente infeliz também".
Acompanho o pequeno facho de luz até percebe-lo sumir entre as núvens.
E a andança noturna prossegue.Uma ronda persistente à caminho dos amores clandestinos,das carícias furtivas...
Asas cambaleantes,falenas incapazes de alçar um vôo.
Vai-se o pequeno bando...Ruminam as sobras da melodia que as embalou.Resta-lhes nas bocas com gosto de cerveja a pungência de um refrão:"Você me pede na carta que eu desapareça!...Que nunca mais lhe procure e pra sempre te esqueça..."
Aos poucos o plac...plac...dos saltos vai tomando um ruído choco,distanciado.A lua e eu,na espreita.
Cúmplices do luar,os postes esguios as sequestram logo ao dobrar a primeira esquina.
Na janela sou um lobo solitário divagando,divagando...
Joel Gomes Teixeira
É o que elas cantavam na madruga :
https://www.youtube.com/watch?v=wSLqcrmdTOE
Texto reeditado.Preservados os comentários ao texto anterior:
19/02/2012 23:27 - Lourdes Borges
Que encanto de crônica, Joel! Muita clareza. Abraços da Lourdes Borges.
19/02/2012 17:53 - Carlinhos Colé
Amigo Joel, uma palavra apenas de seu belo texto me levou (nesta tediosa tarde de domingo de carnaval) a fazer uma longa viagem pelo mundo maravilhoso da poesia: "falenas". Lembra-se de "Noite cheia de estrelas"? A canção gravada originalmente por Vicente Celestino, em 1932, e que tornou-se um hino para os seresteiros deste nosso rico Brasil. Nos idos da década de 1970 eu a conheci na voz de Evaldo Braga e já me encantava com a poesia nela contida: "...lá no alto a lua esquiva / está no céu tão pensativa / as estrelas tão serenas / qual dilúvio de falenas / andam tontas ao luar..." Excelente texto, caro poeta! abraços!
17/02/2012 15:42 -
Olhos de águia e a alma de um poetá.Algumas pessoas que sofrem de insônia se enfurecem. O poeta sonha, e cria crônicas tão bonitas quanto esta. Parabéns meu caro Joel! E apareça sempre que quiser.
17/02/2012 03:52 - Maria Dilma Ponte de Brito
Bela inspiração. Bom carnaval.
17/02/2012 02:54 - Chico Chicão
Meu caro Joel do meu Paraná querido.Estou aqui,nesta madrugada de calor gostoso,olhando para a Av.9 de Julho e enxergando o Lobo da Estepe (Hermann Hess)nesta colina,não da Av.Paulista,mas das colinas de Irati,sua bela cidade.O texto é lindo,Joel.Tem a sua cara de observador arguto e detalhista e ,as noites/madrugadas são iguais em qualquer parte do mundo,sobretudo para poetas/sonhadores.Continue olhando a Vida com este olhar de Falcão,que observa todo movimento,e nos relate em contos geniais.Não pare de escrever,Amigo Joel.É a Tua Sina. Obrigado.Fique na paz! (Em Tempo:O texto foi escrito em Jan/11. O Pior já passou gracas à Fé e Oracões.)
16/02/2012 23:55 - Lilian Reinhardt
Poeta, sua prosa tem cheiro de simbiose poética boemia no ar...uivos plangentes, esse lobo que te habita caça a noite e sua magia para nossas almas. Obrigada pela bela partilha! Boa noite!
16/02/2012 23:54 - Alice Gomes
Lindíssimo, como tudo o que você escreve.
16/02/2012 23:41 - Ione Rubra Rosa
Encantadora sua crônica,Joel.Viajei nela.Aplausos.bjs no coração
16/02/2012 23:26 - Marta Cavalcante Paes
Ficou lindíssima a tua inspiração abraços poéticos.
(16 de fevereiro/2012)
A lua que agora vejo é cheia.
Cheia de magia num céu borrifado de estrelas.
É madrugada e adormecem os demais aqui em casa.
Sòzinho, ouço o ressonar, e feito um zumbi reflito o dia complicado por que passei.
E êste silêncio que seria compacto não fosse o ruído sêco dos saltos altos das "meninas da Jacira", instiga o lobo solitário que me habita a ensaiar um uivo na madrugada.
Rapidamente detenho-lhe enjaulado no que ainda resta-me de bom senso.
Não !...Não ficaria bem. Lobos costumam uivar suas solidões na mata, nas colinas enluaradas...
Enamoram-se de luas,camuflados sob o manto das folhas,o emaranhado dos galhos.Lançam na imensidão o brado retumbante de suas carências e, quando ouvidos,são temidos por alguns ou perseguidos e caçados por outros.
Sob o teto dêste quarto,sou nêste instante um lobo enamorado de lua,sem pretensões de despertar temor nem sequer tornar-se prêsa de um caçador qualquer.
Então,debruçado na soleira desta janela,aquieto-me e vou engolindo à sêco os uivos de minh´alma.
Uma luzinha colorida que se alterna revela-se a milhares de quilometros no cruzar de um avião.
Vêm-me à lembrança a figura de vó Izaura e seu baldinho de leite na mão.O bimotor das cinco da tarde sobrevoando o céu iratiense e a boa velhinha filosofando:
"Vejam meninos !...
Quanta gente feliz viajando,maaass...quanta gente infeliz também".
Acompanho o pequeno facho de luz até percebe-lo sumir entre as núvens.
E a andança noturna prossegue.Uma ronda persistente à caminho dos amores clandestinos,das carícias furtivas...
Asas cambaleantes,falenas incapazes de alçar um vôo.
Vai-se o pequeno bando...Ruminam as sobras da melodia que as embalou.Resta-lhes nas bocas com gosto de cerveja a pungência de um refrão:"Você me pede na carta que eu desapareça!...Que nunca mais lhe procure e pra sempre te esqueça..."
Aos poucos o plac...plac...dos saltos vai tomando um ruído choco,distanciado.A lua e eu,na espreita.
Cúmplices do luar,os postes esguios as sequestram logo ao dobrar a primeira esquina.
Na janela sou um lobo solitário divagando,divagando...
Joel Gomes Teixeira
É o que elas cantavam na madruga :
https://www.youtube.com/watch?v=wSLqcrmdTOE
Texto reeditado.Preservados os comentários ao texto anterior:
19/02/2012 23:27 - Lourdes Borges
Que encanto de crônica, Joel! Muita clareza. Abraços da Lourdes Borges.
19/02/2012 17:53 - Carlinhos Colé
Amigo Joel, uma palavra apenas de seu belo texto me levou (nesta tediosa tarde de domingo de carnaval) a fazer uma longa viagem pelo mundo maravilhoso da poesia: "falenas". Lembra-se de "Noite cheia de estrelas"? A canção gravada originalmente por Vicente Celestino, em 1932, e que tornou-se um hino para os seresteiros deste nosso rico Brasil. Nos idos da década de 1970 eu a conheci na voz de Evaldo Braga e já me encantava com a poesia nela contida: "...lá no alto a lua esquiva / está no céu tão pensativa / as estrelas tão serenas / qual dilúvio de falenas / andam tontas ao luar..." Excelente texto, caro poeta! abraços!
17/02/2012 15:42 -
Olhos de águia e a alma de um poetá.Algumas pessoas que sofrem de insônia se enfurecem. O poeta sonha, e cria crônicas tão bonitas quanto esta. Parabéns meu caro Joel! E apareça sempre que quiser.
17/02/2012 03:52 - Maria Dilma Ponte de Brito
Bela inspiração. Bom carnaval.
17/02/2012 02:54 - Chico Chicão
Meu caro Joel do meu Paraná querido.Estou aqui,nesta madrugada de calor gostoso,olhando para a Av.9 de Julho e enxergando o Lobo da Estepe (Hermann Hess)nesta colina,não da Av.Paulista,mas das colinas de Irati,sua bela cidade.O texto é lindo,Joel.Tem a sua cara de observador arguto e detalhista e ,as noites/madrugadas são iguais em qualquer parte do mundo,sobretudo para poetas/sonhadores.Continue olhando a Vida com este olhar de Falcão,que observa todo movimento,e nos relate em contos geniais.Não pare de escrever,Amigo Joel.É a Tua Sina. Obrigado.Fique na paz! (Em Tempo:O texto foi escrito em Jan/11. O Pior já passou gracas à Fé e Oracões.)
16/02/2012 23:55 - Lilian Reinhardt
Poeta, sua prosa tem cheiro de simbiose poética boemia no ar...uivos plangentes, esse lobo que te habita caça a noite e sua magia para nossas almas. Obrigada pela bela partilha! Boa noite!
16/02/2012 23:54 - Alice Gomes
Lindíssimo, como tudo o que você escreve.
16/02/2012 23:41 - Ione Rubra Rosa
Encantadora sua crônica,Joel.Viajei nela.Aplausos.bjs no coração
16/02/2012 23:26 - Marta Cavalcante Paes
Ficou lindíssima a tua inspiração abraços poéticos.