Desabafo de quem desistiu de lutar
Os inimigos eram muitos.
Dezenas, centenas, talvez milhares.
Chegavam de todo canto e atacavam sem cansar.
Alguns eram abatidos, mas outros vinham e faziam a festa.
Atazanando sem dó nem piedade.
Seu estridente grito de ataque era infernal.
Invadiam todos os cantos sem ficar nenhum teco intacto.
Queixo, pescoço, testa, canto do olho.
Deixavam a calma atônita, descabelada, destrilhada.
Eram atraídos por algum cheiro mágico que os faziam chegar dos confins do inferno pra deixar minha alma desconcertada.
Talvez tivessem no meu suor o néctar pra não morrerem de vez.
Entravam em todos orifícios possíveis - narinas, ouvidos, frestas da pele - esmigalhando minha paciência.
Uma luta desigual e até desumana.
Era um contra todos.
Até que chegou numa hora em que desisti do lutar.
Todo guerreiro, por mais guerreiro que seja, tem seus limites.
A energia numa hora se esvai, levanta a bandeira branca, cansa de se defender num esforço inócuo, inútil.
- Podem vir, seus vermes!
- Façam a festa em mim, míseras criaturas!
- Não vou mais combater seus minúsculos corpos!
- Não vou mais espantá-los, estão atrapalhando minha concentração, meus exercícios, meu sossego!
E foi assim que deixou a turba de mosquitinhos se banquetearem na sua pele naquela deliciosa aula de Yoga numa pracinha do Cambuí, em Campinas.
(História real com todos seus zumbidos)