Desabafo de quem desistiu de lutar

Os inimigos eram muitos.

Dezenas, centenas, talvez milhares.

Chegavam de todo canto e atacavam sem cansar.

Alguns eram abatidos, mas outros vinham e faziam a festa.

Atazanando sem dó nem piedade.

Seu estridente grito de ataque era infernal.

Invadiam todos os cantos sem ficar nenhum teco intacto.

Queixo, pescoço, testa, canto do olho.

Deixavam a calma atônita, descabelada, destrilhada.

Eram atraídos por algum cheiro mágico que os faziam chegar dos confins do inferno pra deixar minha alma desconcertada.

Talvez tivessem no meu suor o néctar pra não morrerem de vez.

Entravam em todos orifícios possíveis - narinas, ouvidos, frestas da pele - esmigalhando minha paciência.

Uma luta desigual e até desumana.

Era um contra todos.

Até que chegou numa hora em que desisti do lutar.

Todo guerreiro, por mais guerreiro que seja, tem seus limites.

A energia numa hora se esvai, levanta a bandeira branca, cansa de se defender num esforço inócuo, inútil.

- Podem vir, seus vermes!

- Façam a festa em mim, míseras criaturas!

- Não vou mais combater seus minúsculos corpos!

- Não vou mais espantá-los, estão atrapalhando minha concentração, meus exercícios, meu sossego!

E foi assim que deixou a turba de mosquitinhos se banquetearem na sua pele naquela deliciosa aula de Yoga numa pracinha do Cambuí, em Campinas.

(História real com todos seus zumbidos)

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 24/11/2018
Reeditado em 25/11/2018
Código do texto: T6510371
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