Crônica Malhadinha está mudada
Poeta Antonio Agostinho
Eu tenho enorme saudade do meu povo e sobretudo de Malhadinha onde passei quase metade da minha vida. Ali morava muita gente boa muitas famílias queridas, famílias como s Jerônimos, os Bianas, os Soares, a família Domingos, os Boticas e outras tantas que gostavam das Agostinhos, como o povo chamava as minhas mães adotivas. Foi nesta Malhadinha antiga que comecei a cantar repente em 1974 quando eu deixava de estudar em Boa Vista com o meu saudoso amigo e mestre padre Alípio Santiago. Era no alpendre da casa do meu avô que eu afinava a viola e tocava um baião dolente que prendia toda vizinhança e deixava os meus colegas de brincadeira encantados com a minha ousadia de poeta debutante. A nossa Malhadinha era outra e o povo daquele tempo tinha mais respeito e muito mais amor pelas coisas boas da vida. O tio Raimundo Elias e a sua esposa a tia Rosa Augusto me convidavam para eu cantar poemas ou canções em sua casa e eu sentia aquilo como uma honra ou um grande respeito ao meu início de poeta repentista. Hoje com 64 anos tenho lembrança de tudo isto como se ainda tivesse acontecendo a mesma coisa. A tia Marica ficava muito tempo debruçada na janela do nosso alpendre ouvindo eu cantar repente e canções do nosso poeta Elizeu Ventania e de outros poetas geniais. Tudo começou em Malhadinha até mesmo as minhas grandes leituras foram feitas ali naquela terra querida reduto da família do meu avô Agostinho José de Santiago Neto que deixou uma prole de mais de dez filhos já todos falecidos. Quando vou por acaso a minha terra é somente para lembrar o passado e repetir o filme da minha infância órfã e triste. Não há mais ali os amigos do meu tempo de menino, não há mais ali as famílias tradicionais lá não estão mais as minhas mães adotivas não vejo mais ali o meu tamarindo onde tanto brinquei na minha tenra infância solitária. Hoje ali ninguém mais me conhece e nem me chama como antes o Antonio da Teté. A casa do meu avô virou um fantasma para mim e para outros da minha idade, o café quente que a tia Ana fazia não tem mais quem faça nem há mais o mesmo povo que o tomava outrora conosco. A burra cardã do meu pai também não existe mais e muito menos o nosso cachorro trigueiro que passava a noite inteira ladrando e fazendo raiva aos nossos vizinhos. Malhadinha hoje para mim só existe no meu imaginário nas minhas crônicas ou nos meus sonetos. O nome de minha terra está bem longe através dos meus textos literários dos meus geniais sonetos e de minhas crônicas eruditas. Talvez depois da minha morte, a minha alma volte a morar no berço que me viu crescer.