V I A J A N D O - Goiânia, em 13/09/2007
Evaldo da Veiga
Na vida, momentos pesados gosto de nada,
imagens distorcidas, grotescas, projetadas
pela depravação política, onde criminosos
tem imunidade parlamentar.
Mas a vida também tem um lado lindo, doce,
momento de expectativa sublime...
Estou no Aeroporto do Galeão (Antonio Carlos Jobim),
são 07h52min e o meu vôo está previsto para as 9:00 h,
vou para Goiana com escala em Brasília
(quartel general da bandida maior).
Não há sintoma de atraso; ainda bem.
porque o Guilherme me espera.
Caroline, mãe do Guilherme, é minha filha
e já avisou ao Guilherme da minha chegada.
Tanto já avisou; que ela me disse por e-mail:
- pai. eu e o Guilherme estamos ansiosos com a tua chegada.
Guilherme completará quatro meses no próximo dia 22,
mas é lógico que ele já entende o amor do vovô.
Meus pensamentos viajam a mil, velocidade
bem maior do que vôo objetivo do avião.
Quero escrever um recado para o Guilherme,
mas os meus papéis de anotações estão na mala
e eu já fiz o Chek-in.
Busco um papel e caminho rente a uma fita que divide as mesas de um Restaurante da via de passagem.
Dezenas, centenas de guardanapos e somente um já me bastava. Penso eu pegar um, mas não estou consumindo,
não é ético. Disfarço e olho os garçons, caixas, funcionário,
parece que todos me observam, embora eu sinta também
que nem notam minha presença. Basta estender o braço,
um leve toque, e já é meu um guardanapo.
Sinto acanhamento, uma espécie de receio, uma absoluta incapacidade para o furto. Passo mais vezes pelas mesas,
vou e volto e lembro dos políticos brasileiros
roubando o povo em tempo integral.
Um lado em mim sente-se covarde e inoperante,
afinal o Restaurante é classe “A”, coisa de Rico, os preços no cardápio altíssimos, serviço “ La Carte”,
um guardanapo não lhe faz falta...
Vou, não vou, pratico o ato ou não. Deixo a covardia vencer? Respiro fundo, pego um guardanapo e fujo em passos rápidos. Desço para o andar de embarque e busco um banco.
Que preciosidade aquele guardanapo de papel
que não custa nem um centavo. Sentado, pego a caneta, e dou escape a minha emoção escrevendo um bilhete para o meu amorzão: GUILHERME, VOVÔ TE AMA, MUITO.
Um pouco depois, vovô chega e nos falamos “ao vivo”,
e vamos nos entender perfeitamente,
em nossa linguagem do amor.
Beijos, Vovô.
Imagem: foto do Guilerme no dia em que nasceu.
evaldodaveiga@yahoo.com.br
Aeroporto do Galeão, 13 de Setembro de 2007.
Publicado em Goiânia no mesmo dia, às 16:25 h.
Evaldo da Veiga
Na vida, momentos pesados gosto de nada,
imagens distorcidas, grotescas, projetadas
pela depravação política, onde criminosos
tem imunidade parlamentar.
Mas a vida também tem um lado lindo, doce,
momento de expectativa sublime...
Estou no Aeroporto do Galeão (Antonio Carlos Jobim),
são 07h52min e o meu vôo está previsto para as 9:00 h,
vou para Goiana com escala em Brasília
(quartel general da bandida maior).
Não há sintoma de atraso; ainda bem.
porque o Guilherme me espera.
Caroline, mãe do Guilherme, é minha filha
e já avisou ao Guilherme da minha chegada.
Tanto já avisou; que ela me disse por e-mail:
- pai. eu e o Guilherme estamos ansiosos com a tua chegada.
Guilherme completará quatro meses no próximo dia 22,
mas é lógico que ele já entende o amor do vovô.
Meus pensamentos viajam a mil, velocidade
bem maior do que vôo objetivo do avião.
Quero escrever um recado para o Guilherme,
mas os meus papéis de anotações estão na mala
e eu já fiz o Chek-in.
Busco um papel e caminho rente a uma fita que divide as mesas de um Restaurante da via de passagem.
Dezenas, centenas de guardanapos e somente um já me bastava. Penso eu pegar um, mas não estou consumindo,
não é ético. Disfarço e olho os garçons, caixas, funcionário,
parece que todos me observam, embora eu sinta também
que nem notam minha presença. Basta estender o braço,
um leve toque, e já é meu um guardanapo.
Sinto acanhamento, uma espécie de receio, uma absoluta incapacidade para o furto. Passo mais vezes pelas mesas,
vou e volto e lembro dos políticos brasileiros
roubando o povo em tempo integral.
Um lado em mim sente-se covarde e inoperante,
afinal o Restaurante é classe “A”, coisa de Rico, os preços no cardápio altíssimos, serviço “ La Carte”,
um guardanapo não lhe faz falta...
Vou, não vou, pratico o ato ou não. Deixo a covardia vencer? Respiro fundo, pego um guardanapo e fujo em passos rápidos. Desço para o andar de embarque e busco um banco.
Que preciosidade aquele guardanapo de papel
que não custa nem um centavo. Sentado, pego a caneta, e dou escape a minha emoção escrevendo um bilhete para o meu amorzão: GUILHERME, VOVÔ TE AMA, MUITO.
Um pouco depois, vovô chega e nos falamos “ao vivo”,
e vamos nos entender perfeitamente,
em nossa linguagem do amor.
Beijos, Vovô.
Imagem: foto do Guilerme no dia em que nasceu.
evaldodaveiga@yahoo.com.br
Aeroporto do Galeão, 13 de Setembro de 2007.
Publicado em Goiânia no mesmo dia, às 16:25 h.