A TERCEIRA NOITE DE UM DESERTOR - BVIW
Lima tinha exatamente três noites antes de voltar para o campo de batalha. Depois de tantos amigos perdidos, ser herói não tinha encanto, mas também não conseguia ver graça nas ruas da cidade em que crescera.
Graça estava grávida de descontentamento. Não tinha como colocar mais nada nas malas, por mais que se esforçasse a cada dia que se aproximava da última noite, queria colocar lá dentro a mágoa, e nunca mais abrir, e nunca mais provar daquela dor...
-Não! Assim não dá! Retire este ar de tragédia anunciada! Qualquer criança adivinharia que ele atropelaria a moça, coitada! - Mude essa terceira noite!
Lima bebia seu resto de liberdade antes de voltar para as montanhas do Afeganistão. Para evitar “incidentes”, não usou o carro. Caminhava meio torto, mas com a lucidez de quem sabia que estava prestes a ir para o inferno. E foi aí que o céu veio até ele. Aquilo só podia ser céu! Uma moça linda lhe pedia perdão desesperadamente enquanto seu sangue jorrava. Atingido por uma mala lançada do 8º andar, morria sem ter matado uma mosca, feito um desertor... -Agora sim! Agora vai esgotar bilheteria em todas as línguas.
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