Vícios 
 

Sabe, às vezes fico a reclamar do que a vida oferece a viver, pois
é muito difícil entender as suas nuances. Somos os guias de nosso
destino e acabaremos nos deparando com algo muito próximo aos
nossos desejos conscientes e inconscientes. O universo conspira a
favor de nossos sonhos, então tomemos cuidado com o que vive
rondando nossos pensamentos! Estamos em um mundo em que o
prazer, poder e a paixão prevalecem sobre o amor, amizade e a felicidade.

Quanto mais prazeres sentimos, mais queremos, pois entramos
em um círculo vicioso que nos dá a falsa impressão de felicidade.

E é assim, com o poder e a paixão, que sentimentos como o amor e a
amizade passam despercebidos. Desprezamos os pequenos detalhes
de nossas vidas, pois dificilmente nos contentamos com a simples
felicidade ao alcance da mão, precisamos de algo mais forte, que nos
encante e seduza.
Imagine que estamos famintos e encontramos uma árvore
carregada de frutas maduras e deliciosas, mas conseguiremos
comer apenas o suficiente para nos satisfazer ou o prazer do delicioso

sabor nos vencerá? O que sentiremos depois não passará
de extasia de um estômago muito cheio. Ao contrário, se tiver
apenas uma fruta madura, com certeza a comeremos saboreando
vagarosamente. Provavelmente a sensação será além do prazer que
sentimos e nos encontraremos com a felicidade do bem comer.
Com o sexo, dinheiro e poder acontece o mesmo, podemos ter
tudo da melhor qualidade, mas se for de forma exagerada, não
encontraremos o amor e a felicidade, podendo se transformar em
perdição, ou, o que é pior, enfado.
Bem, eu vivo numa constante briga com estas possibilidades e
é bem verdade que o prazer acaba me vencendo temporariamente,
depois vem o vazio e a necessidade da retroalimentação contínua.

Aprender a ser feliz é muito mais difícil do que se imagina,
pois a felicidade está nas pequenas coisas e gestos, que passam
despercebidos por nós. Dizem que ninguém suporta quinze dias
de felicidade plena, pois somos preparados para o embate,

experimentos, riscos, novidades… Quantas vezes buscamos na bebida
alcoólica a forma de matar a sede de prazer, passamos da conta
e o que acontece é que a nossa sede só aumenta. Se dermos asas
à nossa sede, nos tornaremos quimicamente dependentes, pois
quanto mais temos sede, mais bebemos, e quanto mais bebemos,
mais sede temos. Criamos, então, o modo perpétuo.
Alguém me disse um dia que “enquanto estamos tomando
a bebida está tudo bem, o duro é quando ela começa a beber a
gente”. E me diga se existe algo mais prazeroso do que tomar uma
garrafa de vinho na companhia de quem amamos, a alma repleta
de fantasias vindas do fundo de nossos sentimentos? Aí, sim, o
vinho é apenas um coadjuvante, quando tomado na quantidade
certa e com o objetivo de nos fazer felizes, e não se tornar a nossa
felicidade. Quando fazemos do prazer uma necessidade, já nos
tornamos escravos deste.
Falar dessas coisas é muito mais fácil do que compreendê-las ou
colocá-las em prática, mas é falando delas, vivenciando-as, errando
e acertando que vamos aos poucos nos aproximando da felicidade.
O que tenho para falar sobre drogas é que nunca devemos
experimentá-las, a não ser com prescrição médica e se pudermos
nos livrar até disso, seria ótimo. Mas o prazer e a sedução provocados

são tantos e de tal forma intensos que muito pouca gente
consegue ter domínio sobre eles. Eu, por exemplo, não conheço
ninguém que os dominou. Usar drogas é flertar com a morte, pois
com o tempo passamos a não temê-la e, provavelmente, chega-se
a um ponto no qual a morte torna-se melhor que a droga.
O tabagismo é uma dependência tão grande que chego a
sentir piedade de quem está do outro lado do filtro, pois tudo
se faz em torno do cigarro. A gente se levanta, escova os dentes
dando vômitos e já pensando no primeiro cigarro depois do
café. A vontade é tamanha que até abreviamos o desjejum com
a desculpa que pela manhã temos pouca fome. Depois pegamos
o nosso meio de transporte até o serviço sabendo que no trajeto
não podemos fumar, olhamos para o relógio e ainda não tem
nem uma hora que acendemos o último.
Depois que termino essa tarefa acendo outro, e se as coisas
estão muito agarradas e não dão certo, acendo outro para dar um
jeito. Está quase na hora do almoço e antes eu não vou fumar,
apesar de que ainda faltam 15 minutos e não tenho mais nada
para fazer. O almoço enfim chega, a recompensa vem depois
daquele doce ou cafezinho, é lógico que precedido de um cigarro.
E assim vai o dia todo, tudo gira em torno do cigarro, que passa
a ser remédio para todo mal ou mal sem remédio, não entendo
muito bem. Mas, hoje vai ser diferente, vou levar só três cigarros
para o serviço e pronto, mas, quando passam três horas já foi o
último, aí serve bira ou filar de alguém.
Uai! Nem vi acender esse cigarro, o outro ainda está aceso no
cinzeiro! Que coisa mais deplorante! Como algo tão pequeno pode
se tornar o centro da atenção de alguém, que simplesmente lembra
dele o dia todo? Disso posso falar de carteirinha, pois sou um ex-tabagista

e é só achar que o dominamos e fumamos quando queremos,
descuidar um pouquinho e pronto, voltamos com a corda toda.
Como somos fracos e deixamos coisas pequenas tomarem
conta de nosso desejo? Em sã consciência ninguém trocaria prazeres

passageiros pela felicidade, amor, família e amigos. Porém
isso acontece todos os dias e as consequências são desastrosas!

 


Kennedy Pimenta 🌶