Quem odeia quem e por quê?

Muitos de nós já deve ter ouvido ou lido a inocente pergunta “Por quê tanto ódio ao PT?”.

Esta pergunta invariavelmente é feita por um simpatizante do partido, o que demonstra desconhecimento de causa ou inocência proposital, porque a resposta está na própria essência do Pensamento de Esquerda.

Francisco Martins Rodrigues (1927-2008) foi um político português da extrema esquerda e fundador do PCP(m-l) (Partido Comunista Português marxista-leninista) e da UDP (União Democrática Popular).

Num de seus texto, intitulado “A Arma dos Oprimidos é o Ódio aos Opressores”, Francisco Martins afirma: ““A organização é a arma dos oprimidos”. Falso. A organização é um instrumento indispensável, mas se fosse essa a nossa arma para vencer os opressores estávamos bem lixados. A arma dos oprimidos é o ódio aos opressores, e não há outra, nem nunca houve.”.

E mais adiante: “Porque é que se perdem diariamente tantos esforços de esclarecimento, de organização, tantas boas vontades? Porque lhes falta o núcleo coerente, que só pode vir da vontade de abater o inimigo. Na ausência desse espírito, tudo se dissolve — e a burguesia sabe-o bem, por isso cuida de manter a oposição e a denúncia no nível “civilizado”, “cordato” — para a privar de garras.

Deixemo-nos pois do cristianismo que se faz passar por marxismo e retomemos o espírito da revolta intransigente. É esse o sumo do marxismo: os oprimidos contra os opressores, o derrubamento do sistema, a expropriação dos expropriadores. Guerra prolongada, cheia de pequenas escaramuças, de avanços e recuos? Decerto. Mas uma guerra permanente significa que todos os episódios menores devem tender ao objectivo final e ser avaliados pela medida em que favoreçam ou prejudiquem esse objectivo.

E isto significa o quê? Dar tiros? Pôr bombas? Também, sem falta. Mas para nós, aqui, agora, significa demarcar a cada momento os dois campos opostos, excitar o seu antagonismo, desacreditar os conciliadores, activar o alinhamento de cada indivíduo num ou noutro campo, acirrar a sua resolução de se bater por um lado ou pelo outro, aproximar com cada acção o choque necessário entre duas forças, dois objectivos — manter o sistema caduco a todo o preço, como eles pretendem, ou instalar um novo sistema, um novo modo de viver, como nós exigimos.”.

Nós brasileiros por motivos culturais e religiosos somos incapazes de reagir violentamente contra o que nos oprime. Um exemplo marcante disso é que da classe média “para baixo”, de alguma forma somos todos oprimidos pela classe política há décadas e nunca manifestamos reação enérgica e definitiva quanto a isso.

Então, por quê odiar quem nos oprime?

Foi necessário que “pessoas esclarecidas”, “extremamente preocupadas com os o oprimidos”, dissessem a eles que deveriam odiar os opressores.

Daí, empregados foram incentivados a odiar patrões, negros odiar brancos, gays odiar héteros e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores taxar com ódio incontido, os diferentes de fascistas, tal como na expressão usada por Francisco Martins, com “vontade de abater o inimigo”.

Depois de quase duas décadas semeando o ódio, desagregando ainda mais uma sociedade já carente de motivação para se tornar uma verdadeira nação, esta percebendo que estava num processo acelerado de deterioração, decidiu que devia, não odiar o PT como seus sectários alegam, mas procurar outro caminho, que não fosse tão marcado por ressentimentos e que trouxesse esperança de paz social e progresso.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 21/11/2018
Reeditado em 21/11/2018
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