O CORAL DOS PÁSSAROS

Certo dia, o Uirapuru convidou o sabiá para cantarem juntos.

O curió, curioso, quis bisbilhotar o que os dois cochichavam.

Como não havia segredos entre eles, contaram que apenas queriam cantar, a fim de agradecer a Deus por aquele belo e agradável dia.

O curió, então, pediu para acompanhá-los no enaltecimento ao Senhor. O sabiá de pronto concordou:

– Venha para esta árvore e faremos um trio.

O pintassilgo muito intrometido, ao ver os três ensaiando os primeiros acordes, também desejou participar.

– Mas nós somos um trio – argumentou o egoísta curió, querendo excluir o companheiro.

O Uirapuru, que tinha mais bom senso, sugeriu:

– Quem sabe fazemos um quarteto.

Após algumas avaliações, eles concluíram que, a quatro vozes, seus cantos repercutiriam a uma distância bem maior.

Chilreavam sonoros gorjeios, quando apareceu o bem-te-vi, chateado por não ter sido lembrado.

– Como vocês me deixaram fora?

– Infelizmente, o quarteto já está formado – respondeu com arrogância o pintassilgo.

– Então, teremos um quinteto, pois daqui não saio e daqui ninguém me tira – gritou o passarinho cheio de ira, batendo com o pezinho em um galhinho.

Diante da teimosia do comparsa, decidiram reunir as cinco vozes em uma só.

Empolgados, ensaiavam melodiosos versos de uma bela canção, quando o Uirapuru viu o papagaio, tristonho, olhando para eles. Tomado pela compaixão, questionou-o:

– Por que essa cara de tristeza, parceiro, em uma manhã tão ensolarada?

– Eu queria cantar com vocês.

Todos riram. Uma risada em tom de caçoada. O papagaio sentiu-se humilhado.

– Você não sabe cantar, somente consegue medíocres imitações – menosprezou o sabiá.

– Vai estragar o nosso coral – queixou-se o bem-te-vi.

Ao ver a decepção do papagaio, o Uirapuru chamou à atenção deles:

– Que deselegância, hein pessoal! Vamos convidá-lo. O amigo também quer saudar o Criador.

– Mas ele não tem uma voz maravilhosa como nós – protestou o pintassilgo.

Uirapuru, com um olhar severo, o repreendeu:

– Essa voz maravilhosa, que vocês tanto se garganteiam, não é nossa, ela pertence a Deus. Ele apenas nos emprestou para levarmos a mais pura melodia à natureza.

– Mas ele é desafinado demais ­– acrescentou o curió.

Uirapuru novamente contestou:

– O timbre dele pode ser desafinado, mas os ouvidos de Deus certamente não são.

Então, todos acataram as ponderações do líder e, em um harmonioso sexteto, louvaram ao Senhor.

Moral da história:

Para Deus, o que vale é a intenção.