TEM COISAS QUE NÃO TEM PREÇO.

Fazia tempo que não a via, um pouco pela correria da vida, um pouco pelo fato de um mal entendido que eu mesmo me culpo por não apurar os fatos.

Depois de muitas vezes retornar a minha cidade acabei por ir de encontro ao passado, pois vivendo um momento de resgatar memórias, finalmente procurei a Valentina. A emoção foi grande e verdadeira.

Verdade é que Valentina não era uma empregada, ou foi a que veio trabalhar para a família e virou membro da mesma. Era eu um menino, e ela da roça, veio morar em nossa casa, talvez com a ideia de ficar um tempo, e ficou mais de 40 anos. Viu meus pais trocarem de cidade por três vezes, e neste meio tempo perdeu sua mãe, mas não o contato com as irmãs que vistava anualmente para matar a saudade. Após a perda de meu pai, minha mãe resolveu retornar as origens, fazendo o caminho de volta, e foi morar em um sítio. A Valentina,então aposentada, já acostumada com a vida de cidade, bem que não agradou de voltar para roça, mas companheira que era, continuou com minha mãe, por alguns anos na fazenda Liberdade.

Boa que era no controle a Valentina, que tinha uma fala arrastada típica dizia:

-Gooosto mesmo ééé de cidade pooorque pooosso ir na minha miiissa,

mas num vou deixar sua mãe sóóózinha.

E foi a Valentina morar na roça com minha mãe por alguns anos, até que a 4 anos minha mãe, após um "derrame" nos deixou.

Valentina que tinha uma casinha na cidade, falou para mim que iria morar em sua casa, no que entendi prontamente.

Assim como sempre tem uns que gostam de provocar confusão, disseram para a Valentina insistentemente, colocando-a contra mim.

-Vai boba, processa ele, pega um dinheiro de indenização, ele pode, é rico, tem muitas posses.

Ao tomar conhecimento deste fato, fiquei muito chateado, e fazendo uma auto crítica, errei em ficar sem procurar por um tempo, aquela que de uma certa forma, era como um membro da família, uma irmã, ou até mesmo, sem exagero, uma segunda mãe, de tão dedicada que foi em toda minha infância.

Assim após uma reflexão, ao retornar a minha terra natal, a alguns dias atrás, tomei a sábia decisão. Procure em sua casinha na cidade, perto da Igreja, a Valentina.

Confesso foi um dos momentos mais emocionantes que vivi, tanto pela felicidade da Valentina com a minha chegada, mas muito mais com a paz que fiquei interiormente, pelo abraço que fui recebido.

-Sabeeee, né Fernando, tem geeente que fica falando na cabeça da gente, mas nunca que eu faria processo nenhum contra você.

E complementou.

-Fiquei com saudade suuua.

Abracei a Valentina, com um abraço de filho, com os olhos lacrimejando.

Tomei café com broa de fubá, como a muito tempo não provava igual.

E falei.

-Você está precisando de alguma coisa.

-Olha Fernando, tem uns talher e umas panelas do sítio que iam ser muuuito útil para mim.

Prontamente respondi:

-Sem problemas , não vão mesmo me fazer falta, pode escolher o que você precisar.

Ainda ví que a casinha, embora muito limpa, estava precisando de uns retoques e passei para ela um dinheiro que permitisse tal concerto, no que ela ficou muito feliz.

-Só docê me procurar, fiquei muito alegre.

Antes de nos despedirmos ainda tiramos uma foto, e com um abraço, saí sabendo que aquele momento, se foi bom para ela, tinha com certeza sido ainda mais importante para mim.

Ainda arrematou dizendo:

-Quando voltar por essas bandas, me procure.

Concordei balançando a cabeça, sem esconder a emoção de após tanto tempo estar ali diante da Valentina.

Dizem que EXISTEM COISAS QUE NÃO TEM PREÇO, E ABRAÇAR DEPOIS DE TANTO TEMPO, A MINHA SEGUNDA MÃE,COM CERTEZA É UMA DELAS...