"DE VOLTA ÀS SOMBRAS"

Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la. (Johann Goethe)

Para quem que não me conhece, sou servidor público aposentado, apesar disso, nos últimos 22 anos de minha vida leciono numa instituição superior de ensino. Árdua tarefa, ao mesmo tempo gratificante, que a vida caprichosamente me reservou no “apagar das luzes” de minha vida profissional.No entanto, não pretendo falar nesse espaço, de nenhum assunto específico da disciplina que leciono. Minha intenção é de discorrer simplesmente sobre uma realidade vivenciada aqui na universidade.

Universidade “Alma Mater” que a todos nutrem. Cuja função precípua é de formar jovens de diversas origens. No convívio de pessoas diferentes é que as arestas são aparadas. Onde o diálogo enriquecedor liberta as amarras e os preconceitos, e o esclarecimento produz a aproximação de indivíduos distantes. Infelizmente, apenas um sonho para maioria de um país desigual. Cuja casta dominante abomina as classes mais pobres, limitando de todas as formas possíveis, qualquer avanço que essa parcela da população possa atingir.

A propósito, cheguei a docência exatamente em março de 1997, final de século e também do governo FHC. Naquela época, que se via em minha sala de aula e em quase toda escola eram alunos brancos de classe média ou ricos. Negros e pobres, somente servidores ou do outro lado da cerca do campus. Entretanto, nesses últimos 20 anos o cenário alterou-se. Hoje ao contrário, a maioria dos alunos do noturno é constituída de negros e pardos e obviamente pobres. No período diurno, os brancos ainda são maioria.

Todas essas mudanças deveu-se em grande parte a medidas governamentais de incentivo a educação popular, coroadas com outras ações econômicas acertadas, que foram decisivas para melhorar esse descompasso social e econômico verificados à séculos. Sempre é bom lembrar, que durante os últimos anos, mais de 20 milhões de brasileiros saíram da miséria absoluta, conforme o IBGE.

No entanto, a mistura entre pobres e ricos na universidade, trouxe desconforto a muita gente importante. Imaginem meninas loiras bem nascidas, fazendo trabalhos escolares junto com “mulatinhos” da periferia. Também, mudanças de comportamento do povão, frente à nova realidade do país desagradaram os verdadeiros donos do poder. Afinal, o Brasil foi o último país da América a libertar seus escravos. Logo, urgia para os descontentes, que alguma coisa tinha que ser realizada para reverter essa situação deplorável. Obviamente, isso tudo trouxe de volta ideias golpistas de plantão. O golpe de Estado foi urdido e executado, num piscar de olhos.

Certamente, algumas pessoas bem sucedidas na vida, que passaram os olhos por esse escrito poderiam ter pensado: “vim de baixo e consegui subir na vida”. Por conta disso, poderiam chegar a seguinte conclusão: “Para almejar e alcançar os meus objetivos foram necessários muito esforço e despojamento da minha parte. Logo, tudo isso não passa de uma balela de esquerdista despeitado.

Não é caro leitor, podes crer: tudo é uma questão de estatística, veja quantos negros e pobres conseguem uma formação superior, os números não mentem. Logo a Meritocracia não é a explicação mais lógica para explicar a desigualdade do povo brasileiro.

Para os verdadeiros donos do poder, enfim a paz voltou a reinar novamente, pois o culpado por tudo isso está “enjaulado” e um pretenso salvador da pátria vai assumir em janeiro, prometendo justiça e combate a corrupção. As questões cruciais do povo brasileiro, como miséria e educação parecem não incomodar tanto. Na realidade, o que incomodava foi aquilo que aquele nordestino nojento estava fazendo: “dando vez a quem nunca teve vez”. Isso realmente preocupava, mas hoje, não preocupa mais, pois da cadeia ele não sai mais!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 18/11/2018
Reeditado em 27/11/2018
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