VELHAS NOITES DE DOMINGO



26 de abril/2010

"A IMPERADOR" , antiga loja de confecções,à uma quadra do cinema,deixava ao dispor nas noites de domingo,as vitrines iluminadas e fartos espelhos por onde um grupo de amigos narcisava-se inteiramente à vontade.
Golas pontiagudas das camisas ajustavam-se sobrepostas aos paletós (xadrês em sua maioria).
Davam-se olhadelas aos sapatos com saltos e plataformas nada discretos e as calças boca de sino viam sair de seus bolsos traseiros pequenos pentes a passear sobre vastas cabeleiras devidamente besuntadas de "Trim",modismo de então.
Alguns pequenos ajustes às cintura (tínha-se naquela época) a fim de deixar bem visiveis as enormes fivelas dos cinturões largos.
Dedos afagavam cavanhaques e costeletas .
Impecáveis, os Pães de subúrbio, genéricos de Elvis (bem vivo na época) estavam prontos a encarar longas filas diante dos guichês na movimentada esquina da "XV", a rua de baixo.
A bem da verdade,o filme era mesmo elementar .
A expectativa ficava por conta do escurinho do cinema,com ou sem, drops de anis.
Respiravam-se ares de intenso romantismo e assim, muita pipoca fôra consumida por conta de :"Love Story", "Dr.Givago",  "Candelabro Italiano", dentre outras maravilhas da arte cinematográfica.
É claro que o famoso "escurinho do cinema",contribuia em muito para alguns ligeiros "desater-se" ao enredo do filme, mas...Fazia parte.
Quando,devidamente enlatadas,calavam-se as estrelas da tela,as portas largas do cinema devolviam à  cidade, casais abraçadinhos murmurando aos ouvidos trechos de canções de "Gigliola Cinquetti"
(Dio come te amo!...)e os enamorados ganhavam os contornos da rua de paralelepípedos, agora sob olhares faiscantes de outras estrelas.
As verdadeiras !
Aquelas que bordavam em strass os céus da pacata Irati.
No outro lado da rua ,a casta intelectualizada da cidade discutia Freud e outras amenidades do gênero nas mesinhas de um famoso bar e café.
Alheios, cruzáva-mos a calçada com destino aos famosos saraus do clube Polonês, no entorno da linha férrea.
As ruas repletas de cadeiras nas calçadas eram extensões das moradias que misturavam a placidez de antigos casais aos arrulhos de outros tantos assanhados futuros pares.
A noite estava apenas começando e na penumbra do salão,ao som das baladas dos anos 70 , rostos colavam-se, corações pulsavam com intensidade.
Ao final de tudo,um retorno ao bucolismo do subúrbio.Solitários portões, alcoviteiros, faziam ouvidos moucos aos ligeiros excessos das despedidas.
Um a um ia tomando o seu rumo pelas ruazinhas desertas e silenciosas.Se não tínhamos a luz do "néon", recebíamos de graça o luar ! Com seu toque de romance,sonhos e cheiros de madrugadas...
Aquelas ! ...
Que costumam arquivar-se pra sempre em nossa memória olfativa.
Já em casa, na suposta solidão do quarto, o paletó ainda com o perfume dela era uma saudade precoce pendurada no cabide.


Clic no link para ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=2gvFrsGqKiM


Texto  reeditado.Preservados os  comentários ao  texto anterior:
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17/09/2011 17:53 - Fada das Letras
Olá caro Joel. Tenho andado por aqui lendo os seus deliciosos textos, que evocam tempos da mocidade que não volta..e até já lhe "roubei" um conto delicioso sobre um frango verde que contei no meu programa de rádio...curioso? venha ver a minah escrevaninha...
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22/05/2010 23:07 - CLAUDIONOR PINHEIRO
Caro amigo Joel, cronista nota dez, com certeza estes foram os melhores tempos de nossas vidas, belas lembranças muito bem narradas. Saudações Itabiranas.
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14/05/2010 18:37 - Maria Olimpia Alves de Melo
Bons tempos, sem dúvida nenhuma, bons tempos.
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10/05/2010 02:18 - Lilian Reinhardt
Ah poeta senti o sabor e o cheiro daquele tempo, calças boca de sino, o "trim" nos cabelos masculinos, Doutor Jivago, Gigliola Cinquetti, o escurinho do cinema, a gente moçoila vibrando um romantismo que não existe mais...haviam distancias que se respeitavam, preserva-se ainda limites e surpresas, o que hoje desvela-se antes da maturação e faz perecer a quimera. A nudez de hoje oculta a escuridão do express, da pressa sem sentido...texto maravilhoso em que viajamos no tempo, à mesma mesa, em reverberas puras da alma, obrigada sempre, um grande abraço!
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01/05/2010 09:42 -
Poeta, qto as cambaxirras estas são bem mais simpáticas do que os pobres pardais. São delicadas e tem um canto bem suave. Atualmente, pela manhã bem cedinho elas vem cantar bem próximo a janela do meu quarto e eu gosto muito,pois me traz boas recordações da minha infância. Já pensei em homenageá-las aqui no RL. Estou treinando... Um abraço aconchegado pra ti.
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01/05/2010 09:41 - Mafag
Eta tempo bom! Nada igual ao de agora onde tudo é declarado, não existe mistério, sabor da descoberta. Tudo já é visto ..tudo declarado antes do tempo,,, e cordialidade onde se escondeu? e o mistério do beijo? o cheiro do perfume? porquê tudo tem que mudar assim... Só a lua sobrou e onde moro sem iluminação na estrada, ela ainda é meu guia minha inspiração .. quanto ao resto... quanta decepção... Beijo Marilu
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01/05/2010 09:28 -
Olá Iratiense! Grata por tua visita. Estava furtiva a imaginar-me nesta época... eu era uma menina e adorava ouvir Love me Tender. Abraços Fraternos.
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30/04/2010 16:35 - Dante Marcucci
Eita gaucho honorário moderno esse...Ja tava na época do TRIM e eu ainda usava GUMEX e GLOSTORA...Mas sempre puxados os cabelos com pentes FLAMENGO...Bons tempos aqueles...Parabens. Um abraço e bom fim de semana
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30/04/2010 11:40 - Malgaxe
kkkkkkkk, era o máximo a costeleta enorme, mais tarde além da boca de sino as calças ainda tinham um pedaço de tecido diferente, que horror, (Hoje) porque naquela época era uma pedida (da hora), rsrsrsrs. Você diz no final que eram bucolicas as horas finais dos passeios noturnos, a não ser pela paisagem, era bem consciente esta geração, da sua condição social, do diario trabalho para conquistar até mesmo o dinheiro para o ingresso no cinema, geração que admirava tudo que o dinheiro podia comprar, mas sabia que somente o trabalho e o estudo poderia lhes dar o mesmo. Hoje, há ambientes bucólicos sim, e sob a fumaça de uma pedra de crack, e vendo uns filminhos nervosos num celular roubado, muitos jovens olham a riqueza alheia e imaginam um "atalho" para ter aquilo em seu poder, e nós sabemos como. Prefiro o romantismo e a vida lenta e honesta de antigamente, pelo menos éramos reféns de algo que engrandecia-nos como seres humanos a cada dia vivido, ao contrário de hoje, é claro com raras e honrosas exceções. Um grande abraço.
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28/04/2010 23:08 - Giustina
Ah, que tempos bons, Joel! Viajei com tua crônica! Os filmes, as roupas, os flertes, os bailes. Felizes anos 60 e 70 da minha juventude! Adorei! Beijão.
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27/04/2010 20:46 - Anita D Cambuim
Gostoso lembrar que os meus irmãos e vizinhos faziam igualzinho. rs. Boa crônica, como todas que você escreve.
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27/04/2010 10:10 - Marília L Paixão
Gostei.
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27/04/2010 08:06 - Maria Iaci
Fiquei aqui tentando te imaginar com a vasta cabeleira, cavanhaque e costeleta, calça boca-de-sino com cinturão de fivelão... mas o Elvis se interpunha o tempo todo! hehehe... Eram tempos mais românticos. Beijo na testa.
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27/04/2010 00:33 - CONCEIÇÃO GOMES
E nós, as moçoilas diziamos: é um pão quentinho, salvado ou dormido?Dependendo da classificação, fazia-se a escolha.Bons tempos...Mas eu achava horrivel aqueles cinturões e a tal boca de sino...
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27/04/2010 00:12 - Lu Santos
Que crônica gostosa de ler, Joel. Adorei! abraços/boa noite!
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26/04/2010 23:49 - Sarah Simon
Muito lindo e poético também. Abraços.
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26/04/2010 23:36 - Max Rocha
Reminiscências de um passado feliz... Abraço!