Pequenas histórias 153
Então é isso
Então é isso. E nisso ficou. Lembrou que não sabia mais escrever. Lembrou que seus dedos apenas passeavam pelas letras pretas do pequeno teclado como se passeasse por outra superfície qualquer. Lembrou com amargura. E guardou essa lembrança como segredo só dele, não poderia passar para mais ninguém. Quem conhecimento tivesse dessa lembrança não mais ousaria ler o que ele viesse desse dia em diante escrever. Parou no meio da frase. Pois não eram frases que surgiam em sua mente, e sim, palavras desconjuntadas sem significados, palavras que ele não poderia de maneira nenhuma errar ao digitá-las. As palavras pulavam de um lugar para o outro, não pousavam apenas numa sequencia de entendimento, pulavam aleatoriamente levando-o a exercícios forçado aumentando o esforço em segura-las, em aprisioná-las nas pontas dos dedos sem uma sequencia determinada pela razão. Então é isso, disse sua mente para ele mesmo. Se é isso então não tenho nada para escrever. E assim, desconsolado, imprimiu lentamente um ponto, um final ponto obrigando-o a parar. E assim parou, não escreveu mais. Fechou o programa. Desligou o micro. E nada mais fez daquele dia em diante. Fim.