Entre nada mais e nada menos
Entre nada mais e nada menos
Mesmo desconhecendo o envoltório invisível que reveste esse motor tinindo em certo compasso, sei que posso senti-lo, como a matemática que não rejeita o zero, como a visão que simplifica coisas ao redor, a espera que protege e os adereços familiares e enervantes - presentes o tempo todo - dos quais às vezes fujo, às vezes melhor não vê-los do que admiti-los. O ritmo soa e quando soa estou a seu dispor.
Ele me leva para um lugar.
Espero 3 minutos para atravessar a avenida, o ritmo traz algo em si, lembrança nenhuma, nem mesmo de um beijo tão distante que até parece de outra vida, o ritmo revela apenas o que vem a seguir, nunca sobre o que passou, ele existe porque estou presente nele, vamos comer casquinhas de siri e rodelas de berinjela, há um prato no fim do corredor com pedaços de bolo, a percepção da minha evolução verifica um início palpável de modificação discreta.
Voltamos pelo mesmo caminho e mais 3 minutos de aguardo.
Ritmo talvez derive de uma palavra em latim, hei de saber, mas depois, portanto, em conseqüência, post hoc, ergo propter hoc, ele me leva para um lugar que existe, está lá, com o mesmo status do zero na matemática, que o considera essencial, mesmo que seja impossível somá-lo (ou subtrai-lo) e importa tanto quanto nada.
Nada também impera na moldura de seu paradoxo, raramente reconhecido, eternamente sem se importar.
Faz dias, semanas, meses, sinto-o em torno da pele, nas veias das mãos, nos olhos que não se cansam, esse motor que zumbe ora valsa, ora puro tambor, me obriga a apurar um momento sem saudades de item nenhum, indo a farmácia mais do que deveria, atravessando o parque em passos lentos quando queria correr praias, sofrendo às vezes de acalculia, ouvindo música como se vislumbrasse legiões de Sílfides, tem gente berrando em microfones, estou sempre em algo, dormir sugere renovação, o sono está cheio de sonhos sobre exemplos mais elevados, então surge o ritmo. Do nada.
E antes que as coisas voltem ao normal ele me conduz ao eixo onde a existência prepondera aquém e além. Ali, no cerne do centro bem no meio do eixo me revela a sua importância.
Relativa.
Não há alma que me pergunte das dores na coluna, que se encante com as miudezas do meu cotidiano, da minha paixão pela vastidão da vida, da respiração curta em longos intervalos, dos receios da perda de quem se ama, das expectativas que fogem quando deveriam aparecer, do amor que supunha se completar, e quando tudo isso pretende somar, se assomar e tripudiar surge o ritmo - tinindo - feito um motor quase silencioso indagando se estou pronto.
E então ele me olha, com uma expressão - o mundo é enigmático, por que não ver essa proposta de outro ângulo? A aparente falta de sentido, prossegue ele, não passa de metamorfose, transição, integração, tudo ao mesmo tempo, pois se a consciência é a substância de toda forma, agora eu o levo para um local nem dentro, nem fora, composto por múltipla variedade de níveis e percepções, dotado de um predicado tão vital quanto o zero.
Que não pode ser multiplicado ou dividido.
Em tal instante, imerso neste ilusório vácuo de valor ainda não aferido, emerge a recompensa.
Que é nada mais, nada menos, que um corpulento indicativo de onde eu devo estar neste momento.
(Imagem: Paul Klee)
Entre nada mais e nada menos
Mesmo desconhecendo o envoltório invisível que reveste esse motor tinindo em certo compasso, sei que posso senti-lo, como a matemática que não rejeita o zero, como a visão que simplifica coisas ao redor, a espera que protege e os adereços familiares e enervantes - presentes o tempo todo - dos quais às vezes fujo, às vezes melhor não vê-los do que admiti-los. O ritmo soa e quando soa estou a seu dispor.
Ele me leva para um lugar.
Espero 3 minutos para atravessar a avenida, o ritmo traz algo em si, lembrança nenhuma, nem mesmo de um beijo tão distante que até parece de outra vida, o ritmo revela apenas o que vem a seguir, nunca sobre o que passou, ele existe porque estou presente nele, vamos comer casquinhas de siri e rodelas de berinjela, há um prato no fim do corredor com pedaços de bolo, a percepção da minha evolução verifica um início palpável de modificação discreta.
Voltamos pelo mesmo caminho e mais 3 minutos de aguardo.
Ritmo talvez derive de uma palavra em latim, hei de saber, mas depois, portanto, em conseqüência, post hoc, ergo propter hoc, ele me leva para um lugar que existe, está lá, com o mesmo status do zero na matemática, que o considera essencial, mesmo que seja impossível somá-lo (ou subtrai-lo) e importa tanto quanto nada.
Nada também impera na moldura de seu paradoxo, raramente reconhecido, eternamente sem se importar.
Faz dias, semanas, meses, sinto-o em torno da pele, nas veias das mãos, nos olhos que não se cansam, esse motor que zumbe ora valsa, ora puro tambor, me obriga a apurar um momento sem saudades de item nenhum, indo a farmácia mais do que deveria, atravessando o parque em passos lentos quando queria correr praias, sofrendo às vezes de acalculia, ouvindo música como se vislumbrasse legiões de Sílfides, tem gente berrando em microfones, estou sempre em algo, dormir sugere renovação, o sono está cheio de sonhos sobre exemplos mais elevados, então surge o ritmo. Do nada.
E antes que as coisas voltem ao normal ele me conduz ao eixo onde a existência prepondera aquém e além. Ali, no cerne do centro bem no meio do eixo me revela a sua importância.
Relativa.
Não há alma que me pergunte das dores na coluna, que se encante com as miudezas do meu cotidiano, da minha paixão pela vastidão da vida, da respiração curta em longos intervalos, dos receios da perda de quem se ama, das expectativas que fogem quando deveriam aparecer, do amor que supunha se completar, e quando tudo isso pretende somar, se assomar e tripudiar surge o ritmo - tinindo - feito um motor quase silencioso indagando se estou pronto.
E então ele me olha, com uma expressão - o mundo é enigmático, por que não ver essa proposta de outro ângulo? A aparente falta de sentido, prossegue ele, não passa de metamorfose, transição, integração, tudo ao mesmo tempo, pois se a consciência é a substância de toda forma, agora eu o levo para um local nem dentro, nem fora, composto por múltipla variedade de níveis e percepções, dotado de um predicado tão vital quanto o zero.
Que não pode ser multiplicado ou dividido.
Em tal instante, imerso neste ilusório vácuo de valor ainda não aferido, emerge a recompensa.
Que é nada mais, nada menos, que um corpulento indicativo de onde eu devo estar neste momento.
(Imagem: Paul Klee)