JACOB E JUVENAL

Jacob saíra a caminhar pelas ruas a fim de conhecer melhor o bairro, seu novo lar paroquial. Dirige-se a rua principal, via esta transformada em calçadão onde o comercio fervilha ao longo do dia. Para em frente às vitrines percebendo as novidades da moda primavera-verão se encanta com os modelos expostos, apesar de ser um homem casto, nada impede de apreciar o vestuário feminino, pois ele entende fazer parte da vida cotidiana como também cultural. A princípio nada para ele é censurado, pois o mito o qual ele se faz seguidor nunca houvera censurado os pecadores (as) de sua época, cada qual com seus princípios éticos e morais. Continua a caminhar vez ou outra alguém acena para ele o que corresponde em seguida às vezes com um simples aceno outras com um forte abraço. Aliás, ele gostava muito de abraçar as pessoas desde as crianças até os mais idosos. Jacob sempre falara que um abraço vale mais que muitas palavras, o calor humano é muito importante para as pessoas sentirem-se amadas, protegidas.

Num determinado momento encontra-se com um grupo de artistas mambembes apresentando seu espetáculo de rua decide então assisti-los e aplaudi-los. Vem a sua memória lembranças de sua infância quando o velho circo chegava a seu bairro trazendo palhaços, mágicos, mulher de barba a desfilar pelas ruas da cidade clamando ao povo a assistirem o espetáculo a estrear no fim de semana. Era alegria total para as crianças, pois todos queriam ver o palhaço, o mágico e pegar na barba da mulher a certificar se era real. Mulher com barba? Perguntava a gurizada em zombaria. Evidente que nestas interrogações surgiam conversas censuradas pelos adultos, se estes viessem, a saber. Coisas de gurizada. Estas lembranças vieram a provocar momentos nostálgicos de uma infância bem vivida naqueles tempos.

Ao dobrar a esquina, Jacob encontra-se com um grupo de retirantes sentados sob o sombreiro de uma bela figueira a descansar do sol escaldante. Espirituoso, puxa uma conversa com o grupo, destacando-se entre eles Juvenal. Homem de aparência sofrida como os demais, porém sorridente e solicito nas interrogações de Jacob. Numa conversa duradoura, Juvenal relata sua vida e dos demais, o motivo de estarem naquela cidade e não em uma metrópole. Juvenal ao saber quem era Jacob, muda sua fisionomia rapidamente e passa a medir as palavras em sua fala, pois houvera tempos em que o mesmo frequentara igreja, hoje se diz um crítico feroz de assuntos religiosos. Jacob percebendo a mudança repentina indaga a Juvenal sua curiosidade acerca do assunto. Com certa relutância, Juvenal discorre a história de sua vida a Jacó e a cada frase dita mais instigante ficara o bate papo. Por fim Jacob vem a descobrir que num passado distante Juvenal entrara em atrito com o vigário de sua paroquia acerca de visões políticas e doutrinárias provocando seu afastamento definitivo da igreja assumindo uma postura ateia segundo sua visão. Porém a conversa tomara outro rumo quando Jacob argumenta o equívoco do seu novo amigo acerca de visões distorcidas que o mesmo vinha alimentando até então. Juvenal concorda em parte de seus argumentos levando-os a um consenso parcial, motivo para alegria de ambos. Jacob passa a conhecer Juvenal em sua profundidade percebendo um grande coração repousando em sua matéria. Suas atitudes fraternais, o uso de sua alteridade para com o outro, seu amor incondicional com os companheiros fez com que Jacob percebesse naquele homem um cristão digno de ser respeitado. Seus sentimentos com a religião estavam equivocados diante da espiritualidade que havia em seu interior. Com certeza era mais um sentimento pessoal em relação ao episódio de outrora do que mesmo com a própria fé como o imaginava. Diante desta conclusão Jacob assume compromisso para futuros encontros com o intuito de compreender com mais precisão este Ser especial que surge inesperadamente em seu caminhar. Finda a conversa Jacob segue em direção a sua casa com várias interrogações a despeito de Juvenal. Sendo ele uma pessoa simples com um passado participativo no interior de sua Igreja e hoje distante, porém com uma espiritualidade imensurável. No seu entender, Juvenal e tantas outras pessoas que cruzaram seu caminho nestes anos de sacerdócio, colocavam por terra os princípios teológicos das religiões onde estas apregoam ser impossível pessoas se “salvarem” fora dos seus quadros de fiéis adeptos. Assunto que há muito tempo vem estudando e pesquisando para melhor entendimento perante a comunidade e sua própria fé. Apesar de seus superiores não olharem com bons olhos, cada vez mais Jacob se convence de que o homem para ser salvo não necessariamente precisa estar vinculado a uma instituição religiosa, mas sim vivenciar sua religiosidade interior. Vivenciar Deus em todos os aspectos, seja na natureza, no sorriso de uma criança, no olhar de um idoso, no abraço de um amigo, no acalanto de um pai, filho, mãe, filha, enfim, nas atitudes mais simples, é ali que ele está presente. Esta experiência o faz seguir adiante em seus propósitos sacerdotais com mais afinco mesmo que este pensar venha a bater de frente com os dogmas de sua igreja. Afinal Cristo também fora rejeitado por seus pares por propor nova leitura dos livros sagrados. Agradecera a Deus pela experiência vivenciada convicto de estar trilhando um caminho conectado com Deus e o Cristo Jesus redivivo.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 15/10/18

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 13/11/2018
Código do texto: T6501626
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.