Crônica o velho do cacete
Crônica o velho do cacete
Lá por volta dos meus dez anos, conheci em Malhadinha um sujeito por nome de Antonio Rodrigues ou Antonio Quim Quim, que o povo chamava também de o velho do cacete. Do alpendre da casa do meu avô eu sempre avistava aquela figura macabra passando na estrada real de Malhadinha para o sítio Ingá, em busca das bodegas não sei se para comprar alguma coisa ou tomar algumas biritas.Quando eu via o velho passar me sentia muito mal com aquela figura triste e hedionda.
Perguntei muitas vezes a tia Ana Rosa, quem era aquela pessoa estranha e muito esquisita do nosso convívio. Pessoa que não tinha uma gratidão com ninguém, não falava com outras pessoas e nem se identificava com nenhuma criatura da nossa terra e quando dava um bom dia era com gesto ridículo. Eu me sentia completamente irritado com o gesto maldoso do seu Antonio Rodrigues, ou o velho do cacete como o povo da minha terra sempre o chamou. Em 74 quando encetei a profissão de repentista, o velhote estava muito decadente e não mais passava em frente a casa do meu avô e nem fazia mais terror a meninada da nossa velha Malhadinha.Os meninos do meu tempo tinham um medo horrível do velho Antonio Rodrigues quando o velho passava a garotada gritava com medo do velho que respondia a meninada numa linguagem maledicente amaldiçoando tudo e ameaçando bater nos garotos atrevidos. Nunca tive conhecimento na verdade quem era aquele velho estranho a quem realmente pertencia ele e como tinha vindo parar em nossa terra. Anos depois eu soube que ele era da família Rodrigues de Timbaúba de Nossa Senhora das Dores, e muito jovem tinha vagada pelo Brasil inteiro e na velhice estava de volta ao torrão natal. Meu pai falava que o seu Antonio Rodrigues era um velho cheio de mandinga sabia de umas rezas esquisitas e até se escondia diante do povo sem ninguém perceber. Passei muito vexame com aquela figura macabra porque eu tinha medo do velhote e não me sentia muito feliz quando eu o avistava ou ele passava em nossa casa para tomar um cafezinho dado pela tia Josefa. A tia Marica não gostava de ouvi-lo falando, porque o velho tinha uma linguagem debochada e um gesto irritante. Eu não sei qual foi o fim daquele sujeito esquisito e mal-humorado que tanto infernizou a minha vida de menino pobre.