O Campinho. Faz de conta que é...
Era um terreno baldio, com muito lixo espalhado. Certo dia apareceu por lá um caminhão, trazendo muitos homens vestindo um macacão laranja. Todos iguaizinhos, não dava para distinguir um do outro. Só dava para ver que eram muitos... O caminhão parou e os homens desceram. Todas as crianças da vila ficaram lá, observando tudo, curiosas, umas vinte crianças de varias idades. O caminhão sempre aparecia lá para jogar lixo, mas desta vez eles trouxeram muitos homens vestidos de roupa laranja. Os homens desceram e começaram a limpar o terreno baldio. Uns usavam a enxada, outros varriam e outros ensacavam o lixo e o mato. Vieram por vários dias corridos. Era verão e fazia sol. As crianças querendo ajudar levavam água fresca para os homens. Algumas crianças até ajudaram a ensacar o lixo. No final ficou tudo limpinho, um descampado lindo de se ver. No ultimo dia, os homens até se despediram da criançada lá da vila. Afinal elas estavam felizes em ver tudo limpinho. Passaram-se alguns dias e veio outro caminhão trazendo outros homens vestidos de laranja. As crianças correram para ver. Aqueles homens começaram a demarcar o terreno. Será que iriam fazer uma construção ali? Perguntavam curiosas. Um homem disse: ”Vamos marcar um campo de futebol para vocês jogarem bola.” Nossa... Foi uma festança. Precisava ver a alegria da criançada! Um campo de futebol na vila! Fizeram a demarcação, colocaram até umas madeiras para o gol. Dos dois lados. Pintaram a madeira com tinta branca e ficou um sonho de lindo. E o campinho ficou lá, por muitos anos. Era o ponto de encontro da criançada. Elas jogavam bola, faziam corrida, brincavam de queimada, de polícia ladrão. Até os adultos jogaram varias partidas de futebol no campinho. Fizeram até festa junina lá. Depois de muito tempo a grama foi crescendo e já não dava mais para jogar bola. Alguns adultos até tentaram capinar e limpar, más a grama crescia muito rápido. Então as crianças começaram a brincar de mar. Fazia-se de conta que ali era o mar, e onde a grama crescia virava um navio, um barco, um bote. E as crianças se divertiam muito. Certo dia apareceu um caminhão com galhos de arvores cortados. Vários caminhões. O Campinho desapareceu em meio a tanto mato jogado nele. As crianças ficaram tristes, acabaram-se os jogos de futebol, as queimadas, as brincadeiras de mar... Só que criança é um bicho criativo demais, em meio a tanta choradeira dos mais novos, os mais velhos tiveram a ideia de falar para as crianças: “Gente faz de conta que ali é uma grande floresta”! A imaginação tomou conta de todos. E novamente a alegria voltou para aquelas crianças, pés no chão, maltrapilhas, moradores da periferia daquela cidade, esquecidas pela sociedade. A criançada começou a fazer cabaninha com os galhos de arvore. Muitas crianças, muitas cabaninhas. Algumas cabaninhas tinham quarto, sala e cozinha, dependendo da criatividade de seu dono. As mães até colaboravam fazendo comida e lanches para seus filhos comerem nas cabaninhas. Mais tarde ficaram sabendo que as arvores da cidade eram podadas no inicio do verão e seus galhos eram jogados no campinho da vila. E brincaram o verão inteiro, formaram uma comunidade na floresta da imaginação. O tempo foi passando e os galhos foram secando... Não ficavam tristes, porque a cada novo verão, aparecia o caminhão com novas arvores verdinhas para a alegria daquelas crianças.
Fim
10/11/2018
Rose Tureck