Vai! Pega!
Vai! Pega!
- Eu vejo comunistas!
- Com que frequência?
- Todo o tempo!
Parece que o novo Quixote vive erguendo seus moinhos para fugir de reflexões mais profícuas. O inimigo inventado torna ridículo o novo indivíduo-idiota pós-moderno. A falta de embasamento ou responsabilidade intelectual faz com que tudo se transforme em um adjetivo para desautorizar o debate público.
O samba do crioulo doido é vociferado por muitos e vários recopilam, fomentando uma guerra, gélida, tentando ser morna. O fantasma de outrora assusta quem não saiu da primeira linha do livro de história e se perdeu nas vozes roucas daqueles que pretendem se esconder no vazio discursivo.
A Mídia é comunista!
A Igreja é comunista!
A família é comunista!
O contrário de mim é comunista!
Deus é comunista!
Tudo é comunista!
Socorro!!!
A rede social passou a apresentar o inimigo de ontem para o novo herói de hoje e, nesse Western, a arma é a ignorância coletiva, na qual, o idiota se torna útil.
- Eu vejo! Eu juro que vi um comunista!
- Onde?
- Não sei, mas vejo!
A vontade da liça, de entrar em uma guerra vazia, pois na concreta são os primeiros a correr, faz com que se apresente algo no vazio. O discurso é raso quando começa com o anacronismo, mas se sabe que é uma forma de vestir a casaca de forte e sair bradando pelos quatro cantos do país que é um defensor da Nação.
- Olhe ali um comunista! Pega!
- Onde?
- Ali!
- Pega! Vai!
E não é que o tolo vai mesmo!
Mário Paternostro