Velhice
Era quarta-feira, início de verão. Saí para comprar alguns ingredientes para o jantar em família que há semanas estava sendo planejado. Entrei no mercado e apressei-me para atravessar o corredor das bebidas em direção ao açougue. Por sorte, havia acabado de almoçar, o que me fez manter o foco nos itens da minha lista e evitar qualquer distração pela seção de doces. Logo já estava na fila do caixa. À minha frente, conversavam duas senhoras de meia idade.
Lembrei-me de um artigo que havia lido dias atrás sobre o processo de envelhecimento. Segundo os autores, os primeiros sinais de velhice surgem aos 27 anos. Então quer dizer que estou ficando velha? Observar aquelas senhoras me fez pensar sobre o assunto...
Ficar velho será inevitável. E isso confirma a teoria de que só chegará à velhice quem ultrapassar a morte nesta longa estrada da vida. A idade chega e um dia você terá que dar boas-vindas aos cabelos brancos; aceitar as rugas; trocar o nome de todo mundo e aumentar a sua lista de manias. Mas uma coisa é certa: você pode optar por encarar seus anos de experiência como pessoas que reclamam de tudo ou você pode aceitar a velhice como Mick Jagger e Morgan Freeman.
Você pode argumentar que eles vivem bem e aceitam a velhice porque vivem as glórias da fama. Eu concordo que dinheiro, fama e viagens ajudam, mas a mente também pode fazer milagres. Eu acredito no poder da mente!
Voltei-me às senhoras conversando. Quanta diferença! Uma reclamava do horário, do mercado lotado, do rapaz do caixa, do neto, do filho, da nora, do dinheiro, das doenças, da vida, enfim. Quanta rabugice! A outra, sorrindo, falava do dia lindo, do sucesso dos netos, da reforma da pracinha, da nova pintura da igreja, das eleições municipais, e brincava com o fato de ser velha. Essa era “de boa”. Quero aprender com ela!
Eventualmente, todos nós teremos um rosto com efeito de maracujá maduro e algumas coisas irão murchar como bexigas de aniversário depois da festa, mas a forma como vamos lidar com essas coisas é que fará toda a diferença.
Talvez não sejamos como Jagger ou Freeman, ídolos imortais, mas valeria um esforço para nos tornarmos tão simpáticos e “de boa” quanto a senhorinha da fila do supermercado. Velhice acontece, mas rabugice é opcional!