Um certo professor Rodrigo
Ele estava atrasado naquele dia. Chegou em silêncio. Nervoso. Tremendo. Vestia terno e sapatos escuros. Ar jovial, na casa dos trinta. Carregava uma sacola com garrafas de água mineral. Tirou o relógio do pulso e debruçou tudo sobre a mesa no canto da sala. Água. Relógio. Pincéis. Ainda mantinha uma das mãos no bolso quando começou a escrever na lousa. Listou os primeiros tópicos que seriam tratados na aula e então começou a falar. Era juiz e professor. Para nós, muito mais professor do que juiz. E Rodrigo falou, explicou, ditou, falou de novo...e foi assim até o final. “Perfeito para o primeiro dia!”, deve ter pensado.
Nas aulas seguintes, o ritual tornava a acontecer: chegava em silêncio, debruçava os pertences sobre a mesa, escrevia a agenda do dia na lousa e começava a falar. O doutor falava bonito. Depois de uns dias, percebemos que Rodrigo era diferente. Saía dos trilhos. Professores que saem dos trilhos são os melhores, os inesquecíveis e por que não dizer os imortais? Sair dos trilhos significa caminhar com as próprias pernas. Mas isso só é possível quando se tem coragem e uma bagagem sólida e segura o suficiente para garantir a sobrevivência em terreno desconhecido.
Rodrigo ensinava trilhas e também ensinava a como sair das trilhas aprendidas. E assim aprendemos que a justiça não é feita de certezas absolutas ou de verdades plenas. A vida tem muitos pontos de observação e de interrogação. Quem ouviu as lições do professor Rodrigo ou quem leu seus e-mails (orientações para as aulas) certamente não consegue seguir indiferente na vida acadêmica ou profissional. É que suas palavras tinham o condão de provocar nos seus ouvintes o desejo de ir além. Nós, seus discípulos, aprendíamos a romper paradigmas e a ter compromisso permanente com a ética e com a pesquisa, valores fundamentais para todo aquele que se pretende um estudioso e operador do Direito.
Líder nato. Formador. Professor. Pessoa humana. Em meio à notória fogueira de vaidades que inflamava o ego de tantos “doutores” daquela Universidade, professor Rodrigo mostrava que as grandes contribuições para a sociedade não vêm com a quantidade de artigos publicados, mas com a riqueza de um trabalho bem feito, resultado de uma combinação entre dedicação e disciplina.
Dedicação e disciplina. Como ele nos ensinou sobre essas virtudes! Como ele nos fez desenvolvê-las! “Era início de primavera e a meteorologia indicava fortes chuvas para o fim de semana. Naquele sábado à tarde, a turma reuniu-se com o professor para correção de exercícios e revisão de conteúdo. Rodrigo deixou a família, o futebol, o cinema e foi sentar-se naquela sala de aula. Que aula! Quanto entusiasmo! Quanta vontade de ensinar e de aprender!”
A um certo professor Rodrigo e a todos os Rodrigos professores, nossos louros! Obrigada pelas lições! Afinal, “os lírios realmente não nascem das leis”.