À sombra da magnólia branca

À SOMBRA DA MAGNÓLIA BRANCA

Sentei-me, finalmente, num banquinho da praça. Estava exausta depois de passar o dia ajudando Mariana e Carolina com a decoração da festa. E como ficou bonita! As luzes coloridas enfeitavam os pavilhões; as bandeirolas dançavam pelas barraquinhas; os casarões estavam repletos de objetos antigos e os estandes deixavam à mostra garrafões de vinho, cachos de uva, queijos e salames. A beleza maior vinha dos visitantes. Eles percorriam as ruelas estreitas com seu olhar curioso e pungente.

Eu fiquei ali observando o vai e vem da festa. De repente, meu olhar deparou-se com aquele monumento no fim da praça. Eu nunca tinha me dado conta da sua existência, mas já tinha ouvido falar histórias sobre ele na escola: um botão de magnólia branca, feito de cimento, esquecido na praça.

Quantas pessoas teriam passado por ali sem perceber sua existência? Quantos trabalhadores teriam limpado a praça sem percebê-lo? Quantas crianças passaram com suas mochilas e nem sequer lançaram um olhar sobre ele? Pus-me a contemplá-lo.

Lembrei-me da Dona Cidinha, minha professora da quarta-série. Um dia, ela apareceu na sala de aula com uma florzinha branca. Pediu que sentássemos em círculo e nos contou o que aquela pequena flor estava fazendo ali na nossa aula de História. Segundo ela, aquela belezura era um dos símbolos da nossa cidade.

Eu moro em Pedras Grandes, uma cidadezinha do interior do Sul de Santa Catarina e ela foi fundada pelos italianos que vieram da Europa para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Dona Cidinha explicou que, antigamente, nessas nossas terras só tinha mata virgem e índios selvagens e que quando os italianos chegaram, eles começaram a explorar a mata, construir suas choupanas de palha e fixar suas famílias. Eles foram muito corajosos, verdadeiros heróis. Imagina só, deixar para trás sua nação e viver numa terra desconhecida! Eles se empenharam muito por essas bandas. Derramaram muito suor para que o lugar progredisse. Levantaram suas casas, serrarias, moinhos, engenhos; plantaram a videira e fizeram o vinho.

Ela ainda falou que quando fundaram a cidade, elevaram a magnólia branca à flor-símbolo do município porque, mesmo sendo uma flor de aparência delicada e suave, consegue florescer em tempos de frio severo. Uma flor que se compara aos imigrantes italianos: seres frágeis, mas que sobreviveram apesar dos obstáculos.

E me vi ali, anos depois, diante daquele botão de magnólia: tão frio, tão sozinho. Alguém me chama. É minha amiga Ana.

- Vamos aproveitar a Festa do Vinho?

Saímos as duas. Tive certeza de que aquele monumento, de alguma forma, simbolizava minha história no passado, no presente e no futuro. Ao fundo tocava a Canção do Imigrante: Merica, Merica, Merica!

Vaniele Luz
Enviado por Vaniele Luz em 10/11/2018
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