A fábrica de idiotas
A fábrica de idiotas
Em tempos de ódio, onde o inimigo está em toda parte e, quando não se apresenta, inventa-se, a solução é simples, para uma raiva pueril.
Devemos expulsar todo aquele que pensa contrário e que tem ideologias diferentes. Lá vai uma boa parte da população para qualquer parte. O importante é uniformizar as consciências.
Deve-se, também, pedir para ir embora aqueles que não compactuam com diálogos anacrônicos. Expulsar ideias contrárias e pensamentos complexos. Tudo que perturbe a ordem simplória dos rancorosos.
Enxotar quem proíbe proibir e quem diz não ao não. Toda palavra que aponta o racismo e a misoginia deve ter como destino o exílio.
Apresentar críticas e reflexões são condenáveis. Devem partir imediatamente.
É preciso o som uníssono de uma melodia desafinada cantada por um ódio gratuito para que o silêncio seja confundido com paz.
É necessário apagar a esquerda e rejeitar a direita. Qualquer caminho deve ser cerceado.
É uma condição sine qua non para o crescimento que vigiem quem está com as chaves da prisão. Que saiam daqui, imediatamente.
Todo aquele que reza uma oração diferente. Vá para o inferno!
Quem não comunga com as verdades pós-verdades. Saiam!
Se não concorda. Fora!
Época de uniformização! Todos marchando na mesma direção, cantando o mesmo estribilho com a mesma face e as mesmas feições. As diferenças são rechaçadas e a fábrica de idiotas produz em massa, a massa que grita fora daqui.
Tempos de sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim e sim...
Mas o tempo precisa de tempo para entender esse tempo de o mesmo do mesmo.
Mário Paternostro