Adicional De Periculosidade...



Parecia ser mais um dia comum como qualquer outro. A chuva havia dado uma trégua e o sol voltava a brilhar.
Acordei cedo e fui fazer minhas tarefas rotineiras no sítio, pois sou moça de sorriso fácil e convívio ameno, mas que não revela sentimentos.
Há quase um ano atrás um rapaz se aproximou de mim numa das raras vezes em que saí de casa. Ele tinha os olhos da cor do céu e um jeito bastante formal. Me contou sobre sua vida , sua profissão e seus sonhos. Trabalhava como segurança numa transportadora de valores, dizia que era um trabalho perigoso, estressante mas que proporcionaria a ele meios de ter uma família.
Eu ia ouvindo tudo sem dizer nada , semblante sereno, mãos pregadas no colo, mas minha imaturidade era tanta que uma espécie de medo do desconhecido tomava conta de mim. Queria dizer tanta coisa, mais a voz não saía, havia tantas moças estudadas, bonitas e de boa índole ao nosso redor.
Porque ele foi justo de uma moça da roça se aproximar?
Quando ele se levantou para buscar uma bebida, eu vi ali minha chance de fugir, deixei minhas amigas falando sozinhas e saí em desabalada carreira. O medo de nutrir sentimentos era tanto que eu só pensava em fugir dali, as lágrimas vieram em profusão, um medo um aperto no coração.
Chorei até adormecer, e o pior ainda viria ao amanhecer...
Um toque de recebimento de mensagem no celular:
Ninguém foge do amor morena !
Nunca respondi a nenhuma mensagem que o rapaz de olhos claros me enviou,  mas dentro de mim se criou um dilema.
Mais uma mensagem chegando:
Ninguém foge do amor morena!
Até que nessa manhã do dia 7 de novembro de 2018, uma quarta-feira, precisei ir a cidade. Coloquei o cinto de segurança, sintonizei o rádio e dei partida. Poucos quilômetros de estrada de terra e logo eu chegaria a rodovia.
Dia claro, pouco movimento, cidadezinha do interior de São Paulo. Na altura do km 2 da rodovia Abrão Assed, observo uma movimentação estranha na estrada, carros parados ou tentando voltar de ré, motoristas desnorteados e perplexos, barulho de bombas, de tiros e eu meto o pé no freio, a marcha ré não entra,  nessa hora não penso em nada e nem em ninguém.
Sem entender nada do que esta acontecendo e sem saber como sair dessa situação, sou uma moça em desespero, me escondo parcialmente embaixo do carro, ralando braço e joelhos.
Fecho meus olhos e tapo meus ouvidos
Vou morrer sem conhecer o amor penso comigo
São minutos de agonia que não tem para onde fugir
Segundos se tornam horas. Sinto o medo me paralisar, não tenho forças e quando o silêncio ecoa permaneço no mesmo lugar.
Ouço que os guardas estão ajudando as pessoas.
Sirenes ligadas que a todos atordoam.
Um guarda chega perto do veículo.
Estão treinados para situações de extremo perigo.
Deve ser um bom rapaz!
Penso ao ver uma mão estendida para a moça de Batatais
Tento sair debaixo do carro bem devagarinho, mas o joelho dói...
E o guarda me ampara com carinho
Meu cabelo longo esta todo caído no rosto
Quando finalmente olho para cima
Meu reflexo esta...
Dentro dos olhos azuis daquele moço
Ninguém foge do amor morena...





                                      


 
Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 10/11/2018
Reeditado em 10/11/2018
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