Linda e capenga
1. Ela era caixa de uma famosa lanchonete. Segundo suas colegas de batente, em junho daquele ano, ela completara 22 anos de idade. E eu, em março, vinte e três. Ela era uma mulher bonita e de uma delicadeza que conquistava fácil.
2. Eu frequentava a lanchonete Preciosa todas as manhãs. Um pão com manteiga e uma xícara de café pingado quebravam meu jejum. Quando a grana permitia, eu pedia uma fruta, de preferência mamão de vez. Acontecia, sim.
3. Pagava a despesa, sem me ligar na beleza da jovem caixa, que se chamava Letícia. E, apressado, pegava o boné e me mandava para o emprego. Raramente agradecia a lhaneza como era atendido por Letícia. Deselegância, concorda?
4. Naquele dia, quando pagava a conta, olhei para Letícia demoradamente. Apaixonei-me pelo seu sorriso, inocente e meigo. Não me contive: sussurrando, disse-lhe da minha súbita paixão... Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
5. Declaração feita, me perguntei: e agora? Só teria dois caminhos: continuar alimentando minha paixão por Letícia ou esquecê-la para sempre. Mas, como esquecê-la se, no café da manhã, forçosamente voltaria a encontrá-la; voltaria a vê-la, nutrindo a esperança de um dia possuí-la...
6. No dia seguinte à "declaração de amor", nunca demorei tanto no café matinal, embora o cardápio fosse o de todos os dias. Só que agora tinha Letícia no meu caminho. Admirá-la, inda que à distância, se não me satisfazia, consolava-me.
7. Como abordá-la mais intimamente? Como chegar até ela? Veio-me à cabeça falar-lhe sobre o significado do seu nome. Dizer-lhe que Letícia significava alegria. Assim como o meu, Felipe, amigo do cavalo. Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
8. Certa manhã, despedi-me dela deixando em sua mão estes versos de Castro Alves: "Que te direi, mulher dos meus amores:/ - Amar-te ainda é melhor do que ser Deus". Pedindo-lhe que lesse com carinho. Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
9. Sobre os versos castrinos, ela nunca me falou. Pensei: se a poesia lhe não fez entender que me apaixonara por ela, seria melhor desistir. Ausentei-me da lanchonete.
10. Ah! Não resisti e voltei. Cheguei, desejando a Letícia um bom dia. Ousei perguntá-la se não sentira minha ausência. Ela me respondeu com o sorriso que me conquistara.
11. Resolvi "persegui-la" na saída da lanchonete, encerrado o expediente. Ela apareceu, capengando... Soube depois que Letícia fora vítima da poliomelite. Apiedei-me dela, não nego.
12. Indiferente ao seu "defeito" físico, aproximei-me e lhe falei da minha paixão por ela. Letícia me olhou, sorriu, e me agradeceu... Não tinha sentido continuar insistindo.
Tive que me contentar em admirá-la à distância, no café da manhã...
1. Ela era caixa de uma famosa lanchonete. Segundo suas colegas de batente, em junho daquele ano, ela completara 22 anos de idade. E eu, em março, vinte e três. Ela era uma mulher bonita e de uma delicadeza que conquistava fácil.
2. Eu frequentava a lanchonete Preciosa todas as manhãs. Um pão com manteiga e uma xícara de café pingado quebravam meu jejum. Quando a grana permitia, eu pedia uma fruta, de preferência mamão de vez. Acontecia, sim.
3. Pagava a despesa, sem me ligar na beleza da jovem caixa, que se chamava Letícia. E, apressado, pegava o boné e me mandava para o emprego. Raramente agradecia a lhaneza como era atendido por Letícia. Deselegância, concorda?
4. Naquele dia, quando pagava a conta, olhei para Letícia demoradamente. Apaixonei-me pelo seu sorriso, inocente e meigo. Não me contive: sussurrando, disse-lhe da minha súbita paixão... Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
5. Declaração feita, me perguntei: e agora? Só teria dois caminhos: continuar alimentando minha paixão por Letícia ou esquecê-la para sempre. Mas, como esquecê-la se, no café da manhã, forçosamente voltaria a encontrá-la; voltaria a vê-la, nutrindo a esperança de um dia possuí-la...
6. No dia seguinte à "declaração de amor", nunca demorei tanto no café matinal, embora o cardápio fosse o de todos os dias. Só que agora tinha Letícia no meu caminho. Admirá-la, inda que à distância, se não me satisfazia, consolava-me.
7. Como abordá-la mais intimamente? Como chegar até ela? Veio-me à cabeça falar-lhe sobre o significado do seu nome. Dizer-lhe que Letícia significava alegria. Assim como o meu, Felipe, amigo do cavalo. Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
8. Certa manhã, despedi-me dela deixando em sua mão estes versos de Castro Alves: "Que te direi, mulher dos meus amores:/ - Amar-te ainda é melhor do que ser Deus". Pedindo-lhe que lesse com carinho. Ela me ouviu, sorriu, e me agradeceu.
9. Sobre os versos castrinos, ela nunca me falou. Pensei: se a poesia lhe não fez entender que me apaixonara por ela, seria melhor desistir. Ausentei-me da lanchonete.
10. Ah! Não resisti e voltei. Cheguei, desejando a Letícia um bom dia. Ousei perguntá-la se não sentira minha ausência. Ela me respondeu com o sorriso que me conquistara.
11. Resolvi "persegui-la" na saída da lanchonete, encerrado o expediente. Ela apareceu, capengando... Soube depois que Letícia fora vítima da poliomelite. Apiedei-me dela, não nego.
12. Indiferente ao seu "defeito" físico, aproximei-me e lhe falei da minha paixão por ela. Letícia me olhou, sorriu, e me agradeceu... Não tinha sentido continuar insistindo.
Tive que me contentar em admirá-la à distância, no café da manhã...