"Brasil: ame-o ou deixe-o", eis o que vejo na TV

É preocupante ver como muitos brasileiros saem em defesa da rede de televisão comandada por Sílvio Santos, quando esta repetiu em suas propagandas o famoso slogan da ditadura: "Brasil: ame ou deixe-o".

A emissora se arrependeu e se desculpou, mas muitos não entenderam o motivo. Pude ver nos diversos comentários sobre este fato, os comentadores dizendo coisas como: "e não é verdade?", "onde está o erro?", "não vi nada demais nisto", "nunca vi tanta verdade nisto"...

Me preocupa saber que tantas pessoas nos dias atuais não se ofendem com quem defende estado exceção, restrições a liberdades individuais, tortura e trato de cidadãos brasileiros como criminosos de guerra.

"Ame-o ou deixe-o" representa as restrições autoritárias, a falsa dicotomia que se tornava verdadeira sustentada no terror da política de segurança da ditadura.

Podemos amar o Brasil, e lutar por ele, contra arbitrariedades, contra desrespeito a liberdade de opinião, aos direitos dos mais pobres e daqueles que não possuem outros meios de fazer valer seus interesses e proteger sua dignidade.

Quem realmente ama o Brasil, não se conforma achando ou fingindo que está tudo bem. Ele não se acomoda por sentir que não será prejudicado por medidas governamentais injustas e autoritárias. Ele não acha que ama o país por vestir a camisa da CBF e torcer pela seleção brasileira, e muito menos por que bate continência para a bandeira nacional.

Ele ama, por que acima de tudo, aprendeu a ter empatia e amor pela sua cultura e pelo povo que constitui este país. Ele se compadece das injustiças e sacanagens que aprontam contra os seus semelhantes, como são espoliados e sacaneados em grandes acordos e leis injustas - para beneficiar parceiros e outros que se creem donos do Brasil.

Por outro lado, quem oferece a porta de casa para os insatisfeitos, crer-se dono da casa. Ao contrário daqueles tempos, não vivemos uma ditadura, isto significa que mesmo os que não amam, os que amam, mas não se conformam, os que dizem que amam, mas não se compadece do próprio povo...enfim aqui é o lugar pra todos os brasileiros, ainda.

O que me assusta, ainda mais do que isto, é como um famoso astrólogo charlatão, conseguiu ressuscitar o velho rótulo de comunista, que ensinou seus seguidores e mesmo quem nem o conhece a estereotipar como comunista qualquer um preocupado com justiça social e desigualdades sociais.

O professor, que ainda promove valores como solidariedade, cidadania e empatia, já esta rotulado como doutrinador, como se tais valores não fossem os objetivos de qualquer país democrático e republicano. Triste ver um país que resolve perseguir aqueles que pregam valores que tornariam nossa sociedade um pouco mais humana e justa.

O pensamento pequeno, que não consegue ir além de si mesmo, se afeiçoa a rótulos, frases de efeito e verdades dogmáticas ao mesmo tempo que renega o que lhe constrange a sair do conforto onde sua pequenez se encontra acolhida e protegida de ter que se amadurecer e aceitar a diversidade do mundo em ideias e maneiras de ser.

O que serão de vocês quando tudo isto se mostrar como uma grande ilusão? Do que sairá o luto? Buscarão um novo pai? Enfrentarão a verdade de que estão sós e tudo que fizerem somente suas consciências serão responsáveis?

Sem nada para culpar, sem um líder para lastrear suas ações e lhes apontar a direção segura, o que serão de vocês, pobres dependentes morais e intelectuais de outrem, quando não tiverem em quem confiar senão na própria razão e discernimento?

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 07/11/2018
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