AMIZADE. INTERESSE MORAL.

Amigos, próximos, irmandade, como irmãos, tenho pouquíssimos, dez, amizades de mais de meio século, desde menino, um patrimônio, riqueza imensurável, amigos de sentimento rebuscado, forjados em conteúdo de inteligências subidas em termos de emoção, sem seletividade, natural, vinda dos céus, desde tenras idades, o rio químico que invade o coração e entra pelos olhos.

Difícil definir perfil do que é amizade, desconhecida como o surgimento da vida e a formação do pensamento. O “sal da terra” da passagem bíblica? Não creio, sal é efetivo e definitivo no dar sabor, que pode exceder ou ficar aquém. Com amigos definitivos, lineares, não há excesso nem falta. Nem pretensão ou afetação tola.

Amigos cinquentenários não tiram sabor, assim fosse precisaríamos compreender, sal não é sempre o mesmo. Amigos inteiros são. Nunca tive surpresas, conheço-os e eles me conhecem. Somos uma coisa só, falamos a mesma língua, pois todos conhecem respeito, educação e conveniência.

Não há incondicionalidade em amizades, não poderia haver, amigo não é mãe, mas há admiração e fortes divergências.

Para uns uma relação inexistente a amizade, existiria mero “conhecimento”, por vezes de muito tempo. E quem ou quais não acreditavam em amizade? As grandes cabeças, reverenciadas e cultuadas. Leia-se Aristóteles e outros. É uma realidade dura e crua? É, em termos. Por quê?

Vida é regida pelo interesse, econômico e moral, realidade científica. Define essa barreira o direito como ciência. E mesmo o interesse moral, subjetivo, imaterial, sem valor de moeda (somente precificado quando há ofensa e dor, dano moral), reside e habita a seara das emoções, onde se situa a alegria. Um grande valor, sem dúvida, talvez o maior, e por isso há interesse. Ninguém quer estar ao lado de pessoas desagradáveis, depressivas, problemáticas, invejosas, complicadas, riquinhos, pobrinhos, ególatras, maledicentes, pessoas irrealizadas com o que queriam ser e não foram, por isso complexadas, e lamurientas, pretensiosas, caricaturas de “ser gente”. Só uma franciscana caridade suporta tais personalidades, tolera, muitos suportam.......em nome do Cristo. É uma grande qualificação. Peco por franqueza, sou mais sincero que a sinceridade. Mas somos todos iguais.

Ninguém quer ser igual ou melhor que os outros em suas posições, sejam quais forem, todos em latitudes ou longitudes estabilizadas, de vidas regulares em termos de economia e relacionamentos, afortunados ou não, advogados, economistas, professor universitário e magistrado, empresário/irmão riquíssimo, que embora tenha recusado veementemente(não se deve ser profissional de amigo) patrocinar inventário de mais de sessenta imóveis de seu pai, tive que ceder.

Ande com iguais, francos, verdadeiros, que não espetam, não fustigam, não são inconvenientes, dizem francamente o que pensam. Não são opiniosos "pela rama", como infantes. Quando há intimidade se dá o devido curso, caso contrário só puxando o “freio de mão”. Não terá surpresas. Cada um no seu bloco. Pessoas escorregadias não servem nem para apresentação, nisso se movimenta o interesse moral.

A personalidade da pessoa, seu perfil que não temos o direito de pedir mudanças, aceitamos ou não, convivemos ou não, reduzimos o convívio ou não, não vai mudar.

Ter o plenipotenciário tribunal da consciência impõe-se, deve ser implacável. Devemos ser o que somos. Nunca disfarçar o que não somos ou melhor, o que queríamos ser e o destino não concedeu.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/11/2018
Reeditado em 02/05/2021
Código do texto: T6496355
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