Cronica a minha aldeia e eu
A minha pequena aldeia é cercada por riachos por muitos córregos e enormes lagoas e fica perto do rio Jaguaribe, o rio mais seco do Ceará.Quando o rio Jaguaribe estava cheio botava água pra fora e alagava a nossa Malhadinha, deixando um prejuízo enorme para as famílias mais pobres que perdiam os seus animais e outros bens de mais valor. Tia Marica falava da cheia de 24 e da canoa do meu avô atravessando gente até o pé da serra do Apodi, ou outros lugares mais distantes. Em 74 eu tina vinte anos e vi de perto o absurdo que a cheia fez em nossa pequena aldeia, fazendo com que o povo deixasse os seus lares e buscasse outras paragens mais seguras e bem longe da água que submergia toda a nossa terra amada e habitada por muita gente boa. A tia Ana Rosa se preocupava com os seus animais, com suas ovelhas, com suas cabras ou os seus porcos tão estimados por ela. Minha tia Marica pouco fazia caso disto porque o seu prazer era ler e fazer a sua renda diária. A minha outra tia dizia que já estava acostumada com aquilo, que o rio Jaguaribe era assim mesmo nos anos de invernos pesados. Quando o Jaguaribe estava estava cheio, para mim era muito importante, porque eu tinha onde brincar e me divertir o dia inteiro, embora a tia Josefa tivesse muito cuidado comigo, dizendo que era muito perigoso tomar banho naquele rio violento e criminoso.Quando eu não ia para o rio Jaguaribe tomava banho na lagoa da velha Maroca, como era chamada a lagoa do Buraco Fundo. Meu tio José, brigava comigo dizendo que havia morrido um menino do meu tamanho naquela lagoa, e eu seria o próximo por não saber nadar e por ser muito afoito.Os momentos mais felizes da minha vida foram nos tempos de inverno porque a minha aldeia tinha muita água e muitos córregos cheios onde eu me divertia o tampo inteiro, embora levasse muitas reprimendas das minhas tias e mães adotivas. Em 74 eu já tinha vinte anos e já cantava repente, embora eu ficasse ilhado por muito tempo porque a nossa Malhadinha sofria bastante com a enchente do rio Jaguaribe e os córregos violentos que cercam a nossa querida aldeia, onde nasceu meu pai e onde fui criado dos dois aos trinta e um anos de idade. José Saramago fala da sua aldeia do Ribatejo, fala do rio Tejo, do Almonda e eu falo do rio Jaguaribe, do córrego do seu Boa Ventura, da lagoa da velha Maroca onde tomei muito banho e fiz muitas raivas às minhas tias.