Lampião

Meu irmão Jair saiu de casa ainda no período infantil para estudar. Embora mantendo laços familiares, teve pouco convive com a família. A certa altura da vida pediu-me para contar nuances do dia a dia em família. Dentre muitas passagens contei a de um cão fiel em uma das etapas da vida. Esse cão fiel, que normalmente o tratamos de cachorro, aceitava gente de fora chegar pela porta da sala, mas era intransigente quando chegavam pela porta da cozinha. Vamos a história de Lampião.

Jair como eu te falei, eu, Zezé e João Batista visitamos algumas cidades do Vale do Jequitinhonha. Num bar surgiu comentários sobre cães, o que normalmente tratamos de cachorros. Foi quando o João Batista, lembrou uma passagem com cachorro lá de casa em Itabirinha. O cachorro chamava Lampião e fazia jus ao nome, era muito bravo, protegia a casa bravamente. João contou que Lampião lutou uma noite inteira com um Cachorro do Mato que atacara as galinhas lá de casa, conseguiu mata-lo com uma dentada na garganta. Embora ficasse todo ferido e quase sem uma orelha. Ficou cansado de tanto lutar com o colega selvagem. Passou o dia deitado. Proeza que o papai alardeava com entusiasmo e gratidão.

Aconteceu uma tragédia, um dia chega lá em casa um menino pela porta da cozinha. Lampião o atacou ferozmente, papai naquele momento atípico, soltou o que achou naquele instante, um cabo de machado, na ansiedade de proteger o menino, deu uma paulada no dorso do Lampião. O cão saiu grunhindo de dor com o dorso quebrado. Papai percebeu que tinha aleijado o cachorro, tentou acabar de mata-lo e não teve coragem. Lampião foi definhando e mesmo depois de ter recebido o cruel castigo, tentava balançar a cauda quando papai passava perto dele. Arrastava pelo terreiro com enorme dificuldade, mas ainda esforçava para vigiar a casa.

Diz o João que Lampião morreu na mais extrema agonia. Secara o corpo do meio para trás. Por falta de informação, não usaram o processo de eutanásia para proporcionar-lhe uma morte suave do guerreiro Lampião, o melhor cão de guarda que a família possuiu Era uma mistura de pastor alemão com cadela vira lata. Diz que meu pai, homem durão verteu lágrimas com a morte de Lampião.

Nesta época eu já morava em BH.

Lair Estanislau Alves.