A Tristeza De Uma Morena...
Quando eu era criança, tínhamos como vizinho já idoso de nome Arístides. Era conhecido por ser um exímio marcineiro, mas também por estar sempre de mal humor, nunca sorria e não gostava de crianças e nem do barulho que elas faziam.
Tinha uma enorme parreira de uvas que separava as duas casas , nessa época de final de ano os cachos de uvas rosadas se multiplicavam, mas o senhor Aristídes vestia cada cachinho com um saquinho e os numerava para que ninguém os cortasse.
Todo final de tarde ele conferia para ver se não estava faltando nenhum, naquela época não era como hoje que se encontra uva com facilidade para comprar, além disso meu pai sendo um trabalhador rural trazia o dinheiro sempre contado para o básico do básico.
Eu confesso que muitas vezes ficava horas olhando para cima, salivando com um cachinho de uva. Criança não tem percepção ainda da vida, eu não sonhava em mudar ou melhorar o mundo, só queria poder experimentar um cachinho daqueles, segurar entre as mãos, sentir o perfume. Mas entrava Natal e saia Natal e o senhor Aristídes nunca realizava meu sonho de criança.
Meu pai bastante sistemático, ensinava a não pôr a mão em nada que fosse de outrem, e que um dia eu iria crescer , me tornar uma moça muito corajosa e trabalhadeira , e aí sim tudo que eu quisesse comer eu poderia comprar com meu suor.
Mas um dia no mês de dezembro, o senhor Aristídes adoeceu e foi parar em cima de uma cama, e todo dia minha mãe preparava um pratinho de bolinhos de chuva e me mandava levar para ele que morava apenas com a esposa , pois não tinham filhos.
Eu abria a porta do quarto dele e sentia o cheiro da morte adentrar as minhas narinas, e sem fazer barulho deixava o pratinho de bolinhos em cima do criado e ia embora. Assim foi durante doze dias, e o cheiro da morte parecia cada mais forte diante de toda a minha sensibilidade.
Naquela tarde minha mãe mandou que eu levasse o pratinho de bolinho novamente, e eu fui mas antes roubei uma margarida do vaso do alpendre dela, eu era criança e achava que aquela florzinha tão singela tivesse o poder de perfumar aquele quarto, mandando assim a morte embora.
Abri a porta e entrei quietinha como sempre, o senhor Aristídes estava acordado, rude e carancudo como sempre. Pus o pratinho sobre o criado e estendi a florzinha com um sorriso tímido para ele , que com um olhar assustado a pegou e até esbolçou um arremedo de sorriso como agradecimento.
Gritou a mulher dele dona Nenê, e pediu que ela colocasse um cachinho de uva no pratinho para a menina Raquel. Chegando em casa saboreei as uvas como quem realiza o primeiro sonho na vida. Naquela mesma noite o senhor Aristídes faleceu...
Muitos anos se passaram , os vizinhos já são outros, a velha parreira já não existe mais e aquela menina se tornou a moça de Batatais.
Nesse final de ano se você estiver sozinho, sem presentes, sem aquelas guloseimas esquisitas que eles servem nas ceias , com tristeza no olhar e profundo desânimo na alma, fique calmo...
Tudo nessa vida é emprestado, inclusive nosso corpo. Erga a cabeça e lute com honestidade pelos seus sonhos , sejam eles quais forem. Meus sonhos hoje são outros, mas eu nunca me esqueço que o primeiro sonho da minha vida foi um cachinho de uva.
Aos meus amigos não posso dar nada de valor, então repito o gesto que tive com o senhor Aristídes.
Para você que esta me lendo agora eu ofereço o que eu tenho de mais precioso:
Todo o meu amor...
Quando eu era criança, tínhamos como vizinho já idoso de nome Arístides. Era conhecido por ser um exímio marcineiro, mas também por estar sempre de mal humor, nunca sorria e não gostava de crianças e nem do barulho que elas faziam.
Tinha uma enorme parreira de uvas que separava as duas casas , nessa época de final de ano os cachos de uvas rosadas se multiplicavam, mas o senhor Aristídes vestia cada cachinho com um saquinho e os numerava para que ninguém os cortasse.
Todo final de tarde ele conferia para ver se não estava faltando nenhum, naquela época não era como hoje que se encontra uva com facilidade para comprar, além disso meu pai sendo um trabalhador rural trazia o dinheiro sempre contado para o básico do básico.
Eu confesso que muitas vezes ficava horas olhando para cima, salivando com um cachinho de uva. Criança não tem percepção ainda da vida, eu não sonhava em mudar ou melhorar o mundo, só queria poder experimentar um cachinho daqueles, segurar entre as mãos, sentir o perfume. Mas entrava Natal e saia Natal e o senhor Aristídes nunca realizava meu sonho de criança.
Meu pai bastante sistemático, ensinava a não pôr a mão em nada que fosse de outrem, e que um dia eu iria crescer , me tornar uma moça muito corajosa e trabalhadeira , e aí sim tudo que eu quisesse comer eu poderia comprar com meu suor.
Mas um dia no mês de dezembro, o senhor Aristídes adoeceu e foi parar em cima de uma cama, e todo dia minha mãe preparava um pratinho de bolinhos de chuva e me mandava levar para ele que morava apenas com a esposa , pois não tinham filhos.
Eu abria a porta do quarto dele e sentia o cheiro da morte adentrar as minhas narinas, e sem fazer barulho deixava o pratinho de bolinhos em cima do criado e ia embora. Assim foi durante doze dias, e o cheiro da morte parecia cada mais forte diante de toda a minha sensibilidade.
Naquela tarde minha mãe mandou que eu levasse o pratinho de bolinho novamente, e eu fui mas antes roubei uma margarida do vaso do alpendre dela, eu era criança e achava que aquela florzinha tão singela tivesse o poder de perfumar aquele quarto, mandando assim a morte embora.
Abri a porta e entrei quietinha como sempre, o senhor Aristídes estava acordado, rude e carancudo como sempre. Pus o pratinho sobre o criado e estendi a florzinha com um sorriso tímido para ele , que com um olhar assustado a pegou e até esbolçou um arremedo de sorriso como agradecimento.
Gritou a mulher dele dona Nenê, e pediu que ela colocasse um cachinho de uva no pratinho para a menina Raquel. Chegando em casa saboreei as uvas como quem realiza o primeiro sonho na vida. Naquela mesma noite o senhor Aristídes faleceu...
Muitos anos se passaram , os vizinhos já são outros, a velha parreira já não existe mais e aquela menina se tornou a moça de Batatais.
Nesse final de ano se você estiver sozinho, sem presentes, sem aquelas guloseimas esquisitas que eles servem nas ceias , com tristeza no olhar e profundo desânimo na alma, fique calmo...
Tudo nessa vida é emprestado, inclusive nosso corpo. Erga a cabeça e lute com honestidade pelos seus sonhos , sejam eles quais forem. Meus sonhos hoje são outros, mas eu nunca me esqueço que o primeiro sonho da minha vida foi um cachinho de uva.
Aos meus amigos não posso dar nada de valor, então repito o gesto que tive com o senhor Aristídes.
Para você que esta me lendo agora eu ofereço o que eu tenho de mais precioso:
Todo o meu amor...